Pró-Engenharias *

23/02/12 – São conhecidas as razões que levam alunos de cursos na área de Engenharias a sumirem de sala de aula e emagrecerem consideravelmente o grupo dos que conseguem chegar ao final da graduação. Mas três são consenso entre professores e coordenadores. A primeira está na formação básica. A despeito da aprovação nos diversos processos seletivos, a turma começa a ocupar os bancos de sala de aula sem bagagem suficiente para acompanhar disciplinas fundamentais como Matemática, Física, Química, sem contar com o domínio da variedade culta da língua materna, condição básica para interpretar os meandros desses e outros temas. A segunda razão está na falta de condições para se dedicar exclusivamente às atividades do curso. Entre essa vontade e a premência de suas necessidades básicas, os alunos optam por esta última, principalmente os de situação econômica menos privilegiada. Aí se tem o agravante de elitizar esses cursos. A terceira tem amparo no aquecimento do mercado. Alunos em períodos mais avançados acabam seduzidos pelas empresas, carentes de profissionais, que lhes oferecem chances que vão além de valores tradicionalmente pagos a estagiários. Diante dessa realidade, mesmo formando 23 mil, o Brasil tem iniciado cada ano com um déficit de 20 mil engenheiros, fato que compromete as reais necessidades de seu desenvolvimento. O que fazer, então?

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Ao lado de ações outras de caráter imediato, aqui no Amazonas inicia-se um trabalho, com expectativa de resultados em médio prazo, que tem tudo para dar certo. Trata-se do Programa estratégico de indução à formação de recursos humanos em engenharias no Amazonas – Pró-Engenharias. Colado nas três principais causas acima apontadas, consiste em estimular estudantes, a partir do segundo ano do ensino médio, a seguirem carreira acadêmica e profissional nas Engenharias, por meio de atividades orientadas em escola da rede pública estadual de ensino sediada na cidade de Manaus. Como se dará isso? A experiência piloto, já em andamento, prevê uma rigorosa seleção de 40 alunos junto à rede pública, coordenada por um pesquisador doutor de uma de nossas universidades. Ao longo do ano letivo, cada um desses alunos se dedicará às atividades regulares em sua escola. No turno vespertino, o grupo se reunirá em uma escola modelo do estado, preferencialmente na área central, e terá atividades práticas exclusivas correspondentes às disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática, Física, Química e Filosofia, trabalhadas de forma interdisciplinar por professores da rede pública selecionados para esse fim. Graduandos da área de Engenharias reforçarão o time atuando como tutores em cada projeto, que terá, vale ressaltar, sempre a coordenação de um professor doutor de instituição de ensino superior que ofereça cursos na área. O desafio, perfeitamente plausível, consistirá na pavimentação da estrada para que os alunos concluam o ensino médio com louvor, ocupem vagas nas universidades, terminem a graduação e, dependendo do interesse pela carreira acadêmica, cheguem ao mestrado e ao doutorado. Bom registrar que, ao longo desse processo, todos os envolvidos perceberão bolsas de estudo como estímulo para o desenvolvimento de suas tarefas.

O programa trabalhará na certeza de que estará incentivando talentos entre os estudantes, despertando vocação profissional e acadêmica para a área de Engenharias, incentivando o envolvimento de professores da rede pública estadual, fomentando o intercâmbio entre docentes do ensino médio e docentes do ensino superior e incentivando a cultura do empreendedorismo e inovação.

Por fim, registre-se que a ação é do Governo do Estado com participação da Sect, Seduc e Fapeam.

Otimismo não nos falta.

*Odenildo Sena é Secretário de Ciência e Tecnologia do Amazonas e Presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti). Artigo publicado simultaneamente no Jornal Diário do Amazonas e nos portais D24am e Portal Amazônia em 21/02/12.