Mais financiamento e desburocratização são desafios de novo ministro do MCTI

O nome do matemático gaúcho Marco Antonio Raupp para o cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação foi anunciado na quarta 18/01. A cerimônia de posse acontece hoje (24/01).

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"Uma meta importante é alcançar o patamar de 2% do PIB aplicados em Ciência, Tecnologia e Inovação", destaca Helena Nader, atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). "É um desafio grande porque ainda não nos recuperamos dos cortes de recursos do ano passado".

Isaac Roitman, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do grupo de trabalho em educação da SBPC, aponta a desburocratização como outro ponto fundamental. "Atualmente, para importar insumos de pesquisa é preciso autorização da Receita Federal e liberação da Anvisa", explica. Isaac ressalta que é essencial que esse processo aconteça com rapidez. "Esses insumos não podem ser tratados como uma mercadoria normal, perdemos muito principalmente no ambiente competitivo em pesquisas de fronteiras".

Otimismo – Para os pesquisadores ouvidos pelo UnBCiência, contudo, a escolha do novo ministro foi a mais acertada para superar os problemas. "Ele tem o perfil técnico e combativo exigido pelo cargo", conta Helena Nader, que trabalhou junto a Raupp durante os cinco anos em que ele esteve na presidência da SBPC.

Nader ressalta a experiência do pesquisador na gestão da inovação como uma das qualidades que farão a diferença na condução do ministério. "Ele coordenou durante muitos anos o parque tecnológico de São José dos Campos e organizou um livro onde o assunto é abordado sob o prisma de várias áreas do conhecimento". Segundo ela, a obra será lançada esse ano pela SBPC.

Isaac Roitman, que também atuou junto a Raupp enquanto ele presidiu a sociedade, afirma que uma das suas principais ações foi criar o grupo de trabalho em educação e o lançamento do Pacto pela Educação – documento que convoca a sociedade a se mobilizar em prol da melhoria da educação básica. "Relacionamos as principais medidas que precisam ser tomadas para que tenhamos uma educação de qualidade", conta. Segundo Roitman, o ministro sempre demonstrou o entendimento da posição estratégica da educação para o desenvolvimento científico.

Cooperação internacional – O físico Celso Mello, professor da Universidade Federal de Pernambuco e presidente da Sociedade Brasileira de Física, declarou ao portal SciDev.Net: "Estamos otimistas com a seleção de um cientista do calibre de Raupp para assumir o ministério. Espero que isso ajude, neste segundo ano de governo da presidente Rousseff, para que se supere a restrição orçamentária e que seja possível dar continuidade à política científica".

Em particular, Mello disse que sua expectativa de que o novo ministro fortaleça a cooperação internacional em áreas estratégicas. "No curto espaço de tempo em que estava no comando da Agência Espacial Brasileira, Raupp mostrou que é capaz de fazê-lo, com ações que realizou a favor do Programa Espacial Brasileiro", disse ele.

Para Luiz Davidovich, diretor da Academia Brasileira de Ciências, "há uma expectativa por parte da comunidade científica de que o novo ministério consiga equilibrar as atividades para estimular a inovação empresarial, com suporte para várias instituições de pesquisa e formação de recursos humanos, dado ao desenvolvimento científico e tecnológico que o País exige em uma série de atividades complementares."

Ele acrescentou que "é importante para fortalecer o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que teve dificuldades no ano passado devido a cortes orçamentais."

Para Davidovich, outro desafio diz respeito à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), outra agência de fomento vinculada ao ministério. "A Finep deve seguir cumprindo seu papel histórico de financiar simultaneamente a inovação nas empresas e a pesquisa em universidades e institutos. Espera-se que a Finep não se transforme simplesmente em um banco de investimento, porque esta é uma tarefa já cumprida pelo BNDES."

Programa Espacial – Raupp trabalhou ativamente no Programa Espacial Brasileiro durante quase seis anos, quando foi responsável por impulso fundamental para o avanço do País na área. À frente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 1985 e 1989, tirou da gaveta o projeto que possibilitou o lançamento do primeiro satélite brasileiro – o SCD1 – em 1993. "Além disso, conduziu as negociações que permitiram a construção do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestre – atualmente um dos principais equipamentos usados no monitoramento da Amazônia", conta José Leonardo Ferreira, que na época era pesquisador no instituto e hoje é professor no Instituto de Física da UnB.

Raupp voltou a trabalhar com o programa quando dirigiu a Agência Espacial Brasileira no último ano. "Tive muitas reuniões com ele para tratar da participação das universidades na formação de recursos humanos para a área", comenta José Leonardo, que é membro do Comitê Aeroespacial da UnB. "O trabalho conjunto entre a UnB e a agência permitiu a criação do curso de Engenharia Espacial e o estabelecimento do convênio com a Universidade Nacional de Dnipropetrovsk, da Ucrânia", relata.

Matemática – No campo da produção científica, Raupp se destaca na área de matemática aplicada – em que modelos matemáticos são usados para entender fenômenos físicos. "Um exemplo é o desenvolvimento de equações diferenciais para o funcionamento de máquinas usadas na construção civil", destaca Leonardo Lazarte, do Departamento de Matemática da UnB, onde Raupp lecionou durante um curto período entre 1971 e 1972. "O trabalho de Raupp na área foi essencial para as tecnologias usadas na construção do metrô do Rio", conta. O ministro ajudou a consolidar a área em nível nacional e é um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional.

Fonte: Jornal da Ciência, com informações da Agência de Notícias da UnB e do SciDev.Net