Impacto ambiental de Belo Monte foi ferozmente reduzido
12/01/2012 – Em um ramo dominado pelas mais diferentes áreas da engenharia, a pós-doutora em energia, Virginia Parente, faz parte de uma minoria de economistas especializados e com atuação no setor. Aos 51 anos, a professora do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo ocupa hoje uma das duas cadeiras reservadas a conselheiros independentes da Eletrobras.
Em sua primeira entrevista como membro do conselho, Virginia faz a defesa da usina hidrelétrica de Belo Monte e do uso da Amazônia para gerar energia. Ela critica a atuação de ambientalistas internacionais focada na preservação da Amazônia, mas conivente com o crescente uso do petróleo do mundo. Defende a criação de um comitê com status de Copom (Comitê de Política Monetária) para definir aproveitamentos hidrelétricos e de transmissão, para que licenciamentos ambientais sejam uma questão de governo. A conselheira revela que não existe preconceito na Eletrobras em relação a uma possível privatização das distribuidoras da empresa e defende a atual administração que, segundo ela, está preocupada em dar retorno econômico a seus acionistas.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
Valor: A conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável deste ano acontece no Rio e vai discutir basicamente a competitividade da energia renovável. O Brasil tem hoje essa energia sustentável para todos?
Virginia Parente: Nós devíamos ter muito orgulho de nossa matriz energética porque, comparada com a do mundo, nossa geração é muito melhor. Proporcionalmente temos muito mais energia vinda de fontes renováveis – hidreletricidade, biomassa, eólica – e há um esforço grande de universalização dos serviços de energia. Então eu creio que nós temos uma posição privilegiada e podemos vender os produtos "made in Brazil" com esse selo, que o mundo tanto aprecia. Não quero dizer com isso que as fontes renováveis não tenham externalidades negativas, que é a expressão econômica, não tenham impactos na natureza, no ambiente ou mesmo impactos sociais relevantes, mas são muito menores do que outras fontes de energia.
Valor: Ambientalmente a questão da hidreletricidade é bastante controversa, basta ver os protestos em torno de usinas como a de Belo Monte. Grandes hidrelétricas são ambientalmente justificáveis?
Virginia: A hidreletricidade é mundialmente mais justificável do que energia gerada com qualquer combustível fóssil. Falo principalmente de óleos pesados, do próprio carvão, porque o efeito estufa é realidade e a energia é uma das principais fontes desse efeito. Se você tem energia ou algumas fontes que não causam efeito estufa, e entre elas a hidreletricidade, é claro que pula na linha de prioridade e fica na frente de outras. E mais uma vez com isso eu não quero dizer que ela não tenha problemas, porque tem. As novas renováveis, e estamos falando de eólica, biomassa moderna e energia solar, estão no varejo e não chegam a 3% da matriz mundial de oferta de energia. Então não se pode esperar resolver o problema de um mundo que está crescendo apenas com as novas renováveis. O Brasil consegue gerar mais de 90% de sua energia com renovável e desse total 98% é hidrelétrica, então não dá para se ter o sonho de uma noite de verão achando que se vai substituir isso num passe de mágica.
Valor: Isso significa que Belo Monte é um mal necessário?
Virginia: Belo Monte tem características boas e, como qualquer hidrelétrica de grande porte, ressalvas. Não tenho dúvidas de que o Brasil precisa de projetos estruturantes e de grande porte do ponto de vista energético. Não chamaria nem de mal necessário, pois Belo Monte está sendo atacada de vários lados, pelos que não gostam e os que gostam de hidreletricidade. Os que gostam porque acreditam que com as concessões ambientais feitas vai se gerar pouca energia. Mas não é pouca, são 4.500 MW de energia firme. Se pensar em Santo Antonio e Jirau, nenhum dos dois projetos chega a 4.000 MW.
Valor: As Organizações Não-Governamentais (ONGs), boa parte delas internacionais, criticam Belo Monte pelo fato de estar localizada em meio a Floresta Amazônica. É preciso explorar a Amazônia?
Virginia: O meu olhar sobre a Amazônia é a de que ela não é intocável. O cuidado é que tem que ser irretocável. O que significa que não se pode fazer um aproveitamento na Amazônia só do ponto de vista econômico, ou seja, pegar um rio ou um pequeno bioma e destruir. Colocar dez hidrelétricas em uma mesma região. Um estudo do WWF mostra que os rios funcionam como veias que drenam toda a floresta e se cortamos todas as veias, a região apodrece. Então não se pode usar a lógica apenas econômica. Mas a Amazônia não pode ser intocável do ponto de vista hidrelétrico.
Fonte: Jornal da Ciência com informações do Valor Econômico