Projeto de construção de instrumentos musicais descobre novos artistas

CIÊNCIAemPAUTA, por Cleidimar Pedroso

Um projeto criado para ensinar estudantes a construir instrumentos musicais reaproveitando restos de madeira acabou despertando o interesse pela música de 20 jovens do município de Manacapuru (a 84 quilômetros de Manaus). Depois de construir seus instrumentos musicais, esses jovens pesquisaram partituras e vídeos na internet e se empenharam para tirar os primeiros acordes do ‘ukulelê’, um instrumento de cordas típico do Havaí.

O projeto ‘Construindo Instrumento Musical de Madeiras da Amazônia: ukulelê’ foi realizado com 20 estudantes, com idades entre 13 e 16 anos, de quatro escolas da rede estadual do município. A coordenação é da pesquisadora do Laboratório de Manejo Florestal (LMF) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Claudete Catanhede.

Esses estudantes receberam aulas teóricas de sustentabilidade e meio ambiente e, também, de ferramentas e equipamentos de serrarias para construção do instrumento, teoria e prática.

Catanhede avalia que os resultados finais do projeto superaram os objetivos propostos pela equipe de pesquisadores. Ela descreve o projeto como uma proposta de tecnologia aplicada e espera que, em breve, todo o conhecimento transmitido traga renda aos novos músicos que também são construtores de instrumentos musicais.

“O objetivo do projeto era capacitar os alunos sobre a tecnologia da madeira, quanto à sustentabilidade e geração de renda. E segue o objetivo principal do INCT que é aumentar o rendimento com madeira da Amazônia, ter maior rendimento e valor agregado. Trabalhamos diretamente com a pesquisa, mas o que mais impressionou foi a aplicação do conhecimento. Isso ocorreu de forma muito rápida”, disse.

A iniciativa conta com o apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Madeiras da Amazônia e é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

ACORDES

Depois de construírem os próprios instrumentos, os jovens receberam uma apostila com algumas músicas e cifras que são tocadas com o ukulelê, mas, segundo Catanhede, eles começaram a ficar curiosos e a pesquisar na internet outras músicas mais complexas de serem tocadas. Encontraram vídeos de bandas que tocam o instrumento também na internet e começaram a se reunir no fim de semana para tocar.

“Eles tiveram uma semana de férias para fazer o relatório e quando eles voltaram começaram a tocar outras músicas. Como mostraram muito interesse e como havia a apresentação dos resultados dos projetos em Manaus, nós contratamos uma professora que, durante uma semana, ministrou aulas pela manhã e a tarde para eles refinarem o som”, contou.

UKULELÊ

O ukulelê foi o instrumento escolhido porque permite um maior aproveitamento da madeira. “A maioria dos instrumentos precisa de um corte específico, um corte radial que normalmente não é feito nas serrarias porque diminue o rendimento da madeira. As que fazem esse corte cobram mais caro porque esse corte é diferenciado. Já o ukulelê não precisa disso”, explicou.

Na fabricação foram usados restos de madeira de galhos de árvores que caem no próprio local onde o Inpa está instalado. Além de restos de madeiras do teto que cobria o antigo prédio da diretoria do Inpa.

NOVAS APRESENTAÇÕES

Depois de tocar durante a apresentação dos resultados do projeto, os jovens músicos foram convidados para tocar na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) no Amazonas, em novembro de 2012. A apresentação rendeu um novo convite, desta vez, para tocar no Teatro Amazonas. O convite foi feito pelo maestro da Orquestra de Violões, Davi Nunes, que assistiu a apresentação.

“Um vídeo da apresentação do resultado foi postado no site Youtube e o maestro viu e foi assistir a apresentação na Semana de Ciência e Tecnologia e fez o convite”, disse Catanhede. Davi contratou um professor para os 20 jovens e desde então eles têm aulas aos sábados, no próprio município onde moram. Eles vão tocar junto com a Orquestra de Violão.

NOVA TURMA

Os resultados foram tão positivos que a partir desta segunda-feira (14), uma nova turma com 12 jovens começa uma nova edição do projeto. O município escolhido foi Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus).

Além da Fapeam e do CNPq, a nova edição vai contar com o apoio da Prefeitura de Iranduba que vai disponibilizar uma sala confortável para a realização do projeto.