TECNOLOGIA – iPad brasileiro deve ficar para o ano que vem

Os tablets da Apple que deveriam ser produzidos no Brasil ainda este semestre e chegariam ao mercado para o Natal, de acordo com previsão feita em junho pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, vão atrasar. Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí e Região, Evandro Oliveira Santos, embora já tenham sido selecionadas 800 pessoas para trabalhar na fábrica dos iPads, iPhones e iPods em Jundiaí, a nova unidade localizada no quilômetro 66 da Rodovia Anhanguera ainda não está em funcionamento. "Nós já imaginávamos isso. Os iPads produzidos aqui devem chegar ao mercado em 2012 e não este ano", afirmou. "A fábrica já está selecionando e vai começar a contratar", disse o sindicalista.

A expectativa do sindicato é de que 3 mil pessoas sejam contratadas. O investimento anunciado pela multinacional taiwanesa no Brasil, durante visita da presidente Dilma Rousseff à China em abril, foi de R$ 12 bilhões. A assessoria de imprensa da Foxconn manteve o discurso de que não se pronunciará sobre o assunto e que as informações divulgadas não são oficiais.

A Foxconn já possui licença da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) para instalação e já existe movimentação no local escolhido para a realização da obra do galpão que abrigará a produção de tablets e smartphones. A Prefeitura informou, que o pedido de alvará para funcionamento do novo galpão da Foxconn foi feito em 14 de julho, mas ainda não foi liberado pela administração, que aguarda parte da documentação.

Treinamento – Segundo o sindicalista, as pessoas recrutadas em agosto serão contratadas em setembro e passarão por um treinamento. "Nesta quinta-feira vamos discutir em uma reunião com representantes da Foxconn as condições básicas para esses trabalhadores: piso salarial inicial superior a R$1 mil, transporte fretado, refeição, vale-cesta básica, assistência médica e a jornada de trabalho e de compensação", informou. O sindicato vai se basear nos benefícios que os trabalhadores da unidade da Foxconn já instalada em Jundiaí, às margens da Rodovia dos Bandeirantes, possuem.

A Foxconn é hoje a maior fabricante de computadores e componentes eletrônicos do mundo. Ela está em14 países e a expectativa é de alcançar, em 2011, a marca de 1,3 milhão de empregados. No Brasil, a unidade que mais emprega é a de Jundiaí. A planta que produz para as marcas Dell, HP e Sony tem 3.200 colaboradores. Em Indaiatuba, 800 funcionários trabalham na manufatura dos celulares Sony Ericsson. Em Manaus, onde é fabricada a linha Sony Cyber-Shot de máquinas fotográficas, a equipe tem 250 pessoas. Em Santa Rita do Sapucaí, 500 funcionários produzem as placas-mãe da HP e, em Sorocaba, a unidade de cartuchos da HP gera mais 50 vagas.

Negociações da Foxconn com o governo não avançam – As negociações da Foxconn com o governo brasileiro ainda se arrastam, e os primeiros iPads "made in Brazil" serão apenas montados no País, com 80% do conteúdo vindo de fora, inclusive a tela TFT, de maior conteúdo tecnológico do aparelho. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, a Foxconn negocia a construção de duas fábricas no País para produção das telas, mas o local das unidades ainda não foi definido.

Nos bastidores, técnicos do governo admitem que o investimento da Foxconn pode cair para US$ 10 bilhões, abaixo dos US$ 12 bilhões anunciados pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, em abril. A redução não afetaria os planos da companhia de desenvolver as telas no País e possivelmente exportar parte da produção, dizem fontes do governo.

A empresa, que já possui cinco fábricas no País, chegou a propor que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fosse sócio majoritário do negócio, bancando a maior parte do investimento, mas a instituição não topou. O BNDES continua dialogando com a Foxconn e pode financiar a construção das fábricas ou se tornar sócio minoritário no empreendimento. Além do banco estatal de fomento, a empresa taiwanesa tem mantido encontros com empresas brasileiras interessadas em firmar parceria na fábrica de telas e com o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), para definir como se dará a transferência de tecnologia.

Conhecidas como telas planas de filme fino, as TFT (thin film technology) são fabricadas por robôs em ambientes especiais e possuem componentes eletrônicos em cada pixel, a menor unidade de cor e forma no monitor. A Foxconn também discute com quatro estados, entre eles São Paulo, onde serão localizadas as duas novas fábricas. Segundo fontes, a empresa busca locais com eficiência no fornecimento de energia e conexão de banda larga, e fácil acesso a portos e aeroportos. Por enquanto, a Foxconn decidiu montar apenas mais uma linha de produção em um galpão do condomínio industrial de Jundiaí.

Procurada pela reportagem, a assessora de imprensa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior informou que "prosseguem as conversas sobre uma fábrica da Foxconn no País". A pasta da Ciência e Tecnologia e Inovação disse que sete empresas foram autorizadas a fabricar tablets nos próximos seis meses sem pagamento de alguns impostos.

Fonte: O Estado de São Paulo, via Jornal da Ciência