Vencendo a surdez
Por José da Silva Seráfico*
A transparência tão exigida pela sociedade democrática ainda não logrou expandir-se a todos os territórios onde haja interesse público a satisfazer. Freqüentemente, reclamamos da obscuridade que cerca decisões e atividades dos organismos políticos, quase sempre em razão dos muitos ilícitos que ali prosperam. Raramente, no entanto, temos nossa atenção chamada para outras áreas e setores da atividade humana, a despeito de sua importância fundamental para a vida de todos. Daí a necessidade de entender que tudo quanto o engenho humano cria e produz não faz qualquer sentido, a não ser que a criação ou o produto contribua para tornar menor o sofrimento da sociedade humana.
Dentro dessa ordem de ideias, qualquer conhecimento científico assemelha-se aos objetos descartáveis, se não for levado à ciência da pessoa comum. Enquanto se detiver nos gabinetes e laboratórios de seus produtores ou respectivas instituições, tal conhecimento estará em débito com a sociedade. Sobretudo, quando recursos públicos financiam o esforço dos pesquisadores.
É pensando nisso que me reporto à solenidade realizada na quinta-feira da semana passada, quando quase vinte profissionais e alunos de jornalismo receberam prêmios do II Prêmio de Jornalismo Científico, promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas- FAPEAM.
Desde a criação desse órgão de fomento, a investigação científica vem sendo estimulada sistematicamente no Estado. Várias são as formas que a FAPEAM encontrou para desempenhar suas relevantes funções, uma das quais a atribuição de prêmio àqueles que cumprem tarefa até recentemente negligenciada, a divulgação da ciência.
Um aspecto particular do Concurso deve ser destacado, qual seja o de buscar o rompimento do que há muito considero verdadeiro diálogo de surdos: enquanto os pesquisadores se queixam da forma distorcida com que os meios de comunicação publicam os resultados de seu esforço, os profissionais da comunicação lamentam o hermetismo da linguagem dos cientistas. A incapacidade de compreensão dos primeiros corresponde a certa incompetência dos outros para romper o jargão característico de qualquer atividade profissional.
Assim, a surdez que marca esse precário diálogo revela uma situação em que ambas as partes têm fundadas razões. A experiência com as redações e o vínculo prolongado com a academia permitem compreender o alcance e as desvantagens da difícil relação entre pesquisadores e comunicadores.
Entender a iniciativa da FAPEAM como uma – mas (ainda bem!), não exclusiva – tentativa de superar o incômodo obstáculo, apenas ratifica o papel que o órgão de fomento à pesquisa tem desempenhado, ao longo de sua curta existência. Contando menos de cinco anos de efetivo funcionamento, a FAPEAM já se situa dentre as mais importantes fundações de apoio à pesquisa do País.
Desde 2007, percebe-se trabalho marcado pela continuidade, aprofundamento dos programas e alargamento de horizontes. Por isso, os cursos superiores de comunicação têm prestigiado o certame, de que o número de inscrições para a segunda versão do prêmio dá claro atestado. Este ano, mais que o dobro das inscrições de 2010 foi recebido. Dezesseis foram os contemplados nas diversas modalidades, com trabalhos divulgados em vários veículos de comunicação. Algumas das faculdades em funcionamento na capital amazonense viram seus alunos receber a compensação pelo esforço.
Esta fundação, pelos compromissos mantidos com a ciência e as entidades que procuram produzir e divulgar o conhecimento científico, tem múltiplas razões para sentir-se lisonjeada, tanto quanto para sentir aumentada sua responsabilidade por manter-se solidária a iniciativas como a de que ora se trata.
* José da Silva Seráfico é diretor executivo da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera (FDB) e professor do curso de direito da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Este artigo foi publicado no portal da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera (FDB).