A Ciência apreensiva

Por Odenildo Sena*

Notícia alentadora. Os chamados países emergentes mostram suas garras e avançam com celeridade no competitivo campo da ciência e da inovação tecnológica. E a fonte que aferiu esse novo cenário é insuspeita. Refiro-me à Royal Society, a academia de ciências do Reino Unido. A grande novidade é que Brasil, China, Índia e Coreia do Sul assumem o papel de importantes protagonistas. Juntos, já conseguem reunir cacife para rivalizar com Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, tradicionais líderes nesse campo. Para se ter uma ideia da determinação desses países, o crescimento da China, cujo início tem como marco o ano de 1999, é considerado como impressionante. Tem-se dado a uma média de 20% ao ano. E a meta se mantém ousada. Saltar de 1,44% do PIB, medido em 2007, para 2,5% em 2020, horizonte que não está muito distante. No que tange à produção registrada em artigos científicos, o cenário surpreende também. Os americanos continuam na liderança, mas seu quinhão na produção cintífica mundial caiu de 26% para 21%. Por outro lado, preenchendo esse vácuo, a China, que ocupava o sexto lugar, agora ocupa o segundo, tendo aumentado seu quinhão de 4,4% para 10,2%. Estupendo desempenho! O Brasil, por sua vez, sobretudo na última década, parece ter finalmente encarnado a compreensão de que não há outra saída para consolidar sua liderança na América do Sul e sua competitividade no cenário mundial senão palmeando o caminho da produção de conhecimentos e transformando-os em riqueza e poder. E, nesse particular, a estrada é bem original, pois centrada em nossos recursos naturais e ambientais. Numa meta tão ambiciosa quanto a da China, há pretensão de se ampliar os investimentos em CT&I de 1,4% do PIB para 2,5% até 2022. Hoje já formamos 12 mil doutores e 40 mil mestres por ano. Sem contar com o fato de que, nos últimos anos, por acertada decisão política dos gestores da área e iniciativa dos governos estaduais, aconteceu o fenômeno da desconcentração de investimentos, com as ações espraiando-se principalmente pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que passaram a ocupar efetivo espaço no mapa da ciência produzida no país. Se, de um lado, esse quadro motiva a cultivar otimismo, de outro, gera apreensão o risco de sua descontinuidade, decorrente dos cortes de investimentos para as áreas afetas à produção científica. Nesse campo, o que se deixa de fazer é irrecuperável. Alguém precisa soprar no ouvido da presidenta Dilma que Ciência, Tecnologia e Inovação não rimam sonoramente com soberania, mas representam a solução para qualquer país que se pretende respeitado.

*Odenildo Sena é Secretário de Ciência e Tecnologia do Amazonas e presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti).