Artigo: Ciência e sociedade
Há alguns dias refleti sobre os avanços da ciência no Brasil dos últimos anos. O fato é reconhecido por insuspeitas autoridades no assunto, como a respeitada e exigente revista Sciense, que dedicou uma extensa e novidadeira matéria sobre o tema. Destaque-se, no texto, uma atenção especial para o que vem acontecendo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que, nos anos recentes, vêm sendo contempladas com investimentos diferenciados do governo federal e começam, de fato, a ganhar competitividade científica. O Amazonas, inclusive, é bem referenciado no texto. Desejável coincidência, pois, na semana seguinte, tornou-se pública uma pesquisa coordenada pelo professor Ildeu de Castro Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre a percepção dos brasileiros em relação à ciência no país. Os dados indicam que, se até 2006, apenas 41% da população se manifestavam interessados ou muito interessados em ciência, em 2010 esse percentual saltou para 65%. Adicionalmente a isso, há uma curiosa e, ao mesmo tempo, salutar novidade. Esse índice de 65% supera os 62% de interesse por um tema tão caro e popular aos brasileiros: o esporte. Fico aqui pensando que esse resultado, embora tenha um forte efeito alimentador, não é causa, mas consequência do que se pode chamar de novo mapa da ciência brasileira, o qual envolve uma série de ações e acontecimentos articulados entre si. De um lado, os recursos para pesquisa e formação de doutores tiveram aumentos substanciais nos orçamentos do MCT e do MEC; de outro, os estados responderam com a criação de suas fundações de amparo à pesquisa ou com o fortalecimento e consolidação daquelas já existentes, ao ponto de hoje, apenas Rondônia, Roraima, Acre e Tocantins ainda não contarem com agências de fomento exclusivo à pesquisa. Associe-se a isso o fato de que, de um lado, esses esforços conjuntos promoveram uma aceleração no quantitativo de doutores formados (hoje são 11 mil por ano), sem contar com os programas de iniciação científica a partir do ensino fundamental; de outro lado, a difusão da ciência – e esse é um componente da maior relevância – ganhou importância como nunca antes na história e, fruto disso, a mídia percebeu que ciência é um produto de venda assegurada. Com isso, a sociedade passou a ser mais bem informada e a entender que seu bem-estar, seu entretenimento, sua saúde e sua qualidade de vida dependem da ciência. O mais positivo nesse interesse é que cidadãs e cidadãos passam a ser os maiores avalistas de uma política de estado para o setor. É tudo que se quer.
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