Países emergentes ganham força em C&T
China é o país cuja ascensão mais se destaca 2010-11-1
Os Estados Unidos, a Europa e o Japão podem continuar a liderar as iniciativas de Investigação e Desenvolvimento (I&D) a nível global, mas enfrentam cada vez mais o desafio dos países emergentes, especialmente da China.
A conclusão é da agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que no relatório de 2010 aponta para uma rápida mudança neste panorama: “Enquanto o investimento em I&D cresce globalmente, os países emergentes estão claramente a ganhar força em ciência e tecnologia”.
Liderada por China, Índia e Coreia do Sul, a quota da Ásia cresceu de 27 para 32 por cento entre 2002 e 2007. No mesmo período, os três pesos pesados, União Europeia, EUA e Japão, desceram. Em 2002, quase 83 por cento I&D foi suportada pelos países desenvolvidos, percentagem que, em 2007, caiu para 76 por cento.
Entre 2000 e 2007, a quota do sector privado expandiu-se no Japão, na China, em Singapura e especialmente na Coreia do Sul, permanecendo estável na Alemanha, em França e no Reino Unido, havendo ainda uma ligeira descida na Rússia e nos EUA.
“A distribuição dos esforços em I&D entre o norte e o sul mudou com a emergência de novos intervenientes na economia mundial”, disse Irina Bokova, directora geral da UNESCO, acrescentando que “o mundo bipolar, em que a ciência e a tecnologia eram dominadas pela tríade formada por União Europeia, Japão e EUA, está gradualmente a desaparecer para um mundo multipolar, com um número crescente de centros de investigação públicos e privados a espalharem-se por norte e sul”.
A proporção de investigadores nos países desenvolvidos aumentou de 30 por cento em 2002 para 38 por cento em 2007, sendo dois terços desse aumento atribuídos à China sozinha. Em 2007, este país asiático, com 1 423 400 investigadores, estava prestes a ultrapassar os EUA e a União Europeia. Hoje, a Europa, os EUA e a China contribuem cada um com 20 por cento dos investigadores mundiais, seguidos pelo Japão (10 por cento) e pela Rússia (7 por cento).
Enquanto continuam na liderança, os países desenvolvidos também viram a percentagem de publicações científicas cair de 84 por cento para 75 por cento em 2008. Neste período, a percentagem da China mais do que duplicou, passando de 5,2 por cento para 10,6 por cento. O número de artigos publicados por investigadores na América Latina também aumentou, maioritariamente graças ao Brasil.
Internet está na base da mudança
Esta transformação está a ser ajudada pelo rápido desenvolvimento da internet, que se tornou num poderoso vector de disseminação do conhecimento. Por todo o mundo, o número de ligações disparou significativamente de 2002 para 2007, mas o avanço é ainda mais significativo nos países emergentes. Em 2002, pouco mais de dez em cada 100 pessoas utilizavam a internet no mundo. Hoje, há mais de 23 utilizadores em cada 100.
Esta percentagem cresceu de 1,2 para 8, no mesmo período, em África, de 2,8 para 16 nos Estados árabes e de 8,6 para 28 na América Latina. “A rápida difusão da internet no sul é uma das mais promissoras tendências do milénio”, lê-se no relatório.
Bokova acredita que, mais do que nunca, a cooperação científica regional e internacional é crucial para enfrentar os desafios globais com que se confronta o mundo actual. O reforço da diplomacia internacional, defende, vai tomar a forma de diplomacia científica no futuro.
Fonte: Ciência Hoje