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O cinema nasceu no dia 28 de dezembro de 1895, quando os irmãos Auguste e Louis Lumière, utilizando o “Cinematógrafo Lumière”, patenteado no mesmo ano, realizaram “La première séance publique payante”, a primeira exibição pública de uma película cinematográfica, com cobrança de ingresso. O evento foi realizado no Salon Indien du Grand Café em Paris, numa das principais avenidas de Paris, no Boulevard des Capucines, 14. Na programação, os filmes produzidos, dirigidos e filmados por Louis Lumière.

O cinematógrafo representou um salto no registro e exibição de imagens, transformando a fotografia em cinema. Registrada e projetada numa velocidade superior a 16 fotogramas por segundo (fps), a fotografia – que está presente em cada fotograma – vira outra coisa: o cinema. Com o aumento das produções e exibições cinematográficas, aliado com a necessidade de incluir a banda sonora, surgiu a necessidade de padronizar a velocidade de gravação e exibição.

Cinematógrafo-Lumière (1895) Fonte: Wikipedia

Cinematógrafo-Lumière (1895) Fonte: Wikipedia

O padrão adotado foi o de 24fps, considerado o mais compatível com o conforto visual e com os custos de produção. Umas poucas tentativas de mudança foram intentadas, sem sucesso. Só muito recentemente, com o advento do cinema digital, o padrão sofreu alteração para um número maior de fotogramas por segundo, entre 25 e 30fps.

A mais recente inovação ocorreu durante a realização do filme “The Hobbit: Na Unexpected Journey” (2012), de Peter Jackson, quando foram adotadas as proporções de 48fps, o chamado HFR (High Frame Rate) 3D. Outros filmes em fase de produção prometem vir nesse novo formato, entre eles estão as sequências de “Avatar”,“The Hobbit” e “X-Men”. Essa deve ser a nova proporção para filmes em 3D.

Voltando aos começos, o cinema começou mudo e em preto e branco. Graças à tecnologia o som e a cor foram incorporados, permitindo a escolha do uso de recursos. Usar ou não deliberadamente recursos como cor, som, 3D, etc., é o que diferencia os grandes realizadores dos canastrões. O filme “The Artist”, de Michel Hazanavicius, realizado em 2011, é um exemplo muito bem sucedido (Oscar de Melhor Filme) de escolha de registro: o filme é mudo e em preto e branco. Nada mais adequado para o que propõe o roteiro: “O filme se passa na Hollywood de 1927 e conta a história do astro de cinema George Valentin, que, enquanto se preocupa com o futuro de sua carreira com a chegada do cinema falado, se apaixona por Peppy Miller, uma jovem dançarina que busca o sucesso” (Sinopse). Se fosse um roteiro noir, também cairia bem o uso do preto e branco, como em “The Man Who Wasn’t There” (2001), dos Irmãos Coen. A época típica do film noir corresponde aos anos 40 e 50 do século XX, com filmes sempre em preto e branco, por escolha estética, para melhor retratar a atmosfera obscura do ambiente descrito nos romances policiais, que serviam de base para os roteiros dos filmes. Como há exceções para quase tudo, “Chinatown” (1974), de Roman Polanski, é um raro exemplo de um grande filme noir em Technicolor. Nesse caso, consagrou-se a denominação neo noir.

O cinema não tem ponta. Transborda forma e conteúdo. Não importa o local de exibição, a qualidade de som e imagem, a narrativa real ou ficcional, tudo é cinema. Por outro lado, assim como a literatura, o teatro, a música, a fotografia, o cinema, que tudo reúne, também possui uma história e uma pedagogia de consumo como bem cultural. São diversas “escolas”, diversos ethos, a definir preferências. A idéia de bom livro, boa peça de teatro, boa música, bom filme, só faz sentido no interior de um determinado ethos, onde os valores são comuns aos que o integram.

Como escolher um bom filme? O meu ethos cinéfilo aponta para numerosas fontes: fóruns de cinéfilos (filmes com maior aprovação: IMDb, Rotten Tomatoes…); críticos de cinema (filmes melhor avaliados: METACRITIC, Roger Ebert…); festivais de cinema (filmes indicados e premiados: OSCAR, Cannes…); afinidade com gênero (noir, thriller…); afinidade com realizadores (Irmãos Coen, Tarantino…); afinidade com série (007, Batman…), por exemplo. O hábito e a frequência faz gerar listas de espera em ordem de relevância: não falta indicação de bons filmes.

Quanto ao local de exibição, o cinema (sala de exibição) bem aparelhado ainda é o melhor lugar. Uma boa TV, grande e de alta definição, também serve (e muito). Aliás, sobre a comparação entre esses dois ambientes, lembro do caso do filme “Memento” (2000), de Christopher Nolan. Exibido nos cinemas num único formato, não linear, o filme não agradou de primeira. Foi o DVD que tornou possível remontar as cenas e compreender a narrativa. A cereja do bolo é a última cena da narrativa que precisa ser rodada ao contrário (que não pode ser feita nas salas de cinema). Nolan quis fazer o primeiro filme “pós-moderno”, um filme pronto e não acabado.

 

Guaraciaba Tupinambá é cinéfilo, apaixonado por futebol e professor de Ética e Filosofia do Direito na Universidade Federal do Amazonas – UFAM