Felicidade: indicador de desenvolvimento no século XXI

Muito já se refletiu sobre felicidade em verso e prosa, mas há indícios de que a felicidade será um indicador de desenvolvimento no século XXI. Se o que todos nós almejamos é o bem-estar e a felicidade, o desenvolvimento tem que ter este propósito. Se esta é a meta da população, os governos, que têm como função atender às demandas dos cidadãos, devem suprir este anseio. Quando tratamos de bem-estar da população, nos detemos no nível mais básico, que, em uma sociedade carente, tende a ser alimentação, moradia, saneamento e saúde. Vale uma análise sobre a parcela mais rica da população que, apesar de minoria, usufrui de grande parte dos recursos do Estado, assim como sobre a nova geração e a nova classe média emergente. Dado que políticas robustas de desenvolvimento são de longo prazo, esta “nova classe média” e a nova geração devem ser o foco da atenção.

Neste contexto, podemos entender felicidade como um sinônimo de bem-estar, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define como um estado onde indivíduos alcançam seu próprio potencial, trabalham de maneira produtiva e contribuem para a sua comunidade. Em 2012, a Universidade de Columbia publicou o estudo “Relatório Mundial sobre a Felicidade”. Lá, identificou a pluralidade do conceito. A felicidade inclui avaliações sobre a vida de maneira geral e aspectos positivos e negativos de emoções que afetam o dia a dia de cada um. Alguns fatores são externos como emprego, renda e saúde. Outros são pessoais, como gênero, educação, saúde mental e idade. Outros são inter-relacionados: com maior renda é possível ter melhor educação e sendo mais feliz, a saúde também melhora.

CRITÉRIOS

Muitos economistas abordam o tema, mas não propõem a inclusão desta variável como critério para se planejar e medir o desenvolvimento. O ganhador do Nobel de Economia de 1998, Amartya Sem, já enxergava na década de 80 a importância de permitir que pessoas possam buscar seus objetivos individuais e coletivos, priorizando a liberdade como principal medida de desenvolvimento e o bem-estar como seu objetivo final. O economista Joseph Stiglitz ressalta em seus estudos que medidas tradicionais de desenvolvimento, em especial o PIB, estão em contradição com o bem-estar.

MEDINDO A FELICIDADE

Embora conceitos abstratos, bem-estar e felicidade podem ser objetivamente medidos, utilizando indicadores quantitativos que dão fundamento científico ao tema. Embora pesquisas sobre o assunto sejam limitadas pela falta de dados, algumas conclusões são aceitas e influenciam no direcionamento da política pública. A primeira é o impacto da crença em instituições e no governo. A sociedade fica infeliz quando perde a fé no governo e nas instituições. A percepção de corrupção, tanto na esfera governamental quanto na privada, é identificada como um dos principais fatores que contribuem com o mal-estar da população. Isto exemplifica a importância para o desenvolvimento, de se investir no aumento de transparência, depuração de casos de corrupção e em um sistema judiciário eficiente. Outra conclusão que se chega é de que o ganho marginal de bem-estar por unidade de renda se reduz à medida que o rendimento se eleva. Em países como os Estados Unidos e Japão, a felicidade da população não acompanhou o crescimento da renda.

Assim, no momento em que se discute o crescimento do produto interno bruto (“Pibinho” ou “Pião”), não se pode desconsiderar a ambição da sociedade que é ser feliz. Países como a Alemanha e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vem investido recursos nos últimos anos para criar metodologias próprias de levantamento de dados sobre a felicidade de sua população. O objetivo é entender quais são os fatores que mais contribuem e os que subtraem a felicidade.

Os pensadores de hoje, sejam eles economistas, neurologistas ou filósofos, concordam com a música “Comida”, dos Titãs: “… A gente não quer só dinheiro/ A gente quer dinheiro/ E felicidade/ A gente não quer só dinheiro ….”

 

Suzana Kahn é Subsecretária de Economia Verde do Rio de Janeiro e Walter Figueiredo de Simoni é economista ambiental. O artigo foi publicado no jornal O Globo.