Estudo aponta que faltam parcerias entre pesquisadores e o setor produtivo na área de alimentos em Manaus

CIÊNCIAemPAUTA, por Cleidimar Pedroso

Um estudo realizado pelo doutor em biotecnologia Hugo Leonardo Siroti do Amaral concluiu que 75% das pesquisas realizadas no setor de alimentos em Manaus geram conhecimento, mas não geram produtos para o mercado consumidor e que apenas 10% das pesquisas têm alguma parceria com o setor produtivo. Segundo Hugo, três motivos principais, identificados durante a elaboração da tese de doutorado ‘A Agenda do Pesquisador e sua Influência em Projetos de Pesquisa no Setor de Alimentos em Manaus – Am’ explicam a falta de parcerias entre os pesquisadores e as empresas.

De acordo com ele, as instituições de Ciência e Tecnologia e as empresas precisam estar mais próximas. Além disso, a burocracia administrativa e a falta de editais que atentam áreas específicas para determinados grupos de especialistas também contribuem para que as a maioria das pesquisas não gerem produtos.

“Basicamente é realizada apenas a pesquisa básica e não a pesquisa aplica, direcionada ao mercado e às empresas. As pesquisas realizadas geram muito mais artigos científicos e conhecimento do que produtos. Os pesquisadores estão voltados à pesquisa básica e isso não gera uma parceria com o setor produtivo. Há um grande distanciamento entre as duas esferas”, explicou.

Hugo Leonardo Siroti (no centro) defendeu tese de doutorado em em biotecnologia.

Hugo Leonardo Siroti (no centro) defendeu tese de doutorado em biotecnologia.

A tese de Siroti foi defendida no dia 22 de janeiro, no Programa Multi-institucional de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade de Federal do Amazonas (Ufam). O estudo analisou como a definição da agenda de pesquisa influencia a transferência de biotecnologia e a geração de negócios, no processo de inovação no setor de alimentos em Manaus.

 A PESQUISA

A pesquisa ocorreu entre três grupos. Um deles, formado por 122 pesquisadores da área de alimentos com titulação de doutorado de quatro instituições que responderam a um questionário: Ufam; Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O segundo grupo, formado por 44 empresas, responderam a outro questionário.  O terceiro grupo reuniu dez pessoas entre integrantes da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), coordenação de alimentos da Ufam e da UEA e empresários do setor de alimentos que foram entrevistados pelo pesquisador. “Com essas entrevistas nós buscamos conhecer a realidade do setor de alimentos e como acontece a pesquisa e transferência de tecnologia para o setor produtivo”.

RESULTADOS

Durante o estudo, o pesquisador identificou que 80% dos pesquisadores são financiados por fundações e agências de financiamentos ligadas ao governo. “O governo japonês, por exemplo, investe 15% em pesquisa. Os outros 85% vem da iniciativa privada. Já no Brasil o investimento governamental é muito maior”, disse.

O levantamento apontou ainda, que 20% dos pesquisadores avaliam a burocracia como o principal entrave para o distanciamento entre empresas e os pesquisadores.  “A burocracia dificulta o trabalho do pesquisador porque ele tem que preencher relatórios e buscar editais. Ele tem que identificar possíveis parcerias e isso desfoca o trabalho dos pesquisadores, que deveriam estar em seus laboratórios desenvolvendo suas pesquisas e seus trabalhos. Ele ocupa boa parte do seu tempo com processos administrativos”, disse.

Outros 10% dos entrevistados apontaram as linhas de financiamento de pesquisa como entrave.  Siroti explica que nem sempre os editais públicos atendem as necessidades dos pesquisadores.  “Ele quer pesquisar sobre algo e muitas vezes ele não consegue encontrar um edital que trate especificamente dessa linha de pesquisa. Os editais vêm de cima pra baixo e ele tem que direcionar sua pesquisa em cima desse edital. O perfil de pesquisa dele não é atendido pelo edital e isso causa um desestímulo” disse.

Perguntados sobre o fator mais importante que influenciou na agenda de pesquisa, 80% os pesquisadores responderam que foram as fontes de financiamento, já 10% apontaram as necessidades mercadológicas e outros 5% apontaram as carências sociais e outros pontos destacados representam 5%. “Ou seja, o que influencia efetivamente é um edital para uma linha de pesquisa específica”, destacou.

As entrevistas apontaram ainda, que a cooperação internacional para a realização de pesquisas é uma deficiência muito grande no setor de alimentos. “90% das pesquisas têm cooperação apenas local, 9% nacional e 1% internacional”, disse.

EMPRESAS

Os questionários aplicados em 44 empresas apontaram que 60% da inovação ocorre em produtos e 10% inovam em processos de fabricação. “As empresas fazem pequenas modificações em produtos e jogam no mercado algo diferenciado. São empresas de certa forma carentes e fazem inovações de maneira insipiente. Não é agressivo e falta capital intelectual, investimento em marketing e suporte”, disse.

Sobre as deficiências para inovar, as empresas destacaram a inexistência de um laboratório de pesquisa, recursos para inovação, inexistência de cooperação com instituição de Ciência e Tecnologia e pessoal qualificado.

“Sem um setor específico de pesquisa e inovação, são os próprios gerentes que propõem pequenas mudanças dentro da organização”, disse.

As principais áreas de atuação das empresas que participaram do estudo são as áreas de doces (35%), pescado (25%) e frutas (25%). Quando ao mercado consumidor, 90% da produção é consumida pelo mercado local, 9% é consumido pelo mercado nacional e 1% é consumido no mercado internacional.

CIÊNCIAemPAUTA, por Cleidimar Pedroso