Cientistas querem pré-sal para alavancar o desenvolvimento nacional
Na semana em que o projeto de lei sobre a distribuição dos royalties do petróleo da camada pré-sal deve entrar na pauta de votação no Congresso Nacional, cientistas reiteram a necessidade de aplicar parte considerável dessa receita em educação, ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, afirmou ontem (29) que a receita do pré-sal é uma das alternativas capazes de assegurar que os investimentos na Educação saltem dos atuais 5% para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos.
Embora reconheça que a ciência brasileira tem evoluído nos últimos 40 anos, Palis considera fundamental o País aumentar os investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação para competir em pé de igualdade no exterior. O Brasil investe perto de 1,4% em C&T e ocupa a 13ª posição na produção científica mundial, percentuais ainda aquém dos patamares intencionais.
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Além de incrementar os investimentos na educação brasileira, o presidente da ABC defende que a receita do pré-sal “é o caminho ideal” para alavancar os investimentos científicos e tecnológicos e, paralelamente, o desenvolvimento nacional. Otimista, Palis afirmou que a estimativa da ABC, juntamente com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), é de que a participação dos investimentos em C&T alcance 2% do PIB nos próximos quatro anos e 3% em 2020.
“Hoje nossa participação dos investimentos em ciência e tecnologia no PIB é relativamente pequena”, declarou Palis, durante abertura do 2º Encontro Preparatório do Fórum Mundial de Ciência, ontem (29) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Esta é a primeira vez em que o evento internacional será realizado em países fora da Europa. A 6ª edição do Fórum acontecerá no Rio de Janeiro em novembro de 2013.
Ainda que os investimentos em C&T sejam modestos, Palis avalia que a escolha do Brasil como sede do Fórum Mundial de Ciência no Brasil reflete o reconhecimento internacional do avanço nacional da área de ciência, tecnologia e inovação.
O presidente da ABC dividiu a mesa de abertura do evento com o secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antônio Elias; o reitor da UFMG, Clélio Campolina Diniz; Mercedes Amaral Guerra, secretária-adjunta da SBPC, representando a instituição, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Mário Neto Borges, dentre outros.
Em sua apresentação, o secretário do MCTI sinalizou apoio ao pleito do destino de uma parcela dos royalties do petróleo da camada pré-sal para ciência, tecnologia e inovação. Para ele, esses recursos são decisivos para o dinamismo da ciência e, por tabela, o desenvolvimento do País.
“Não tenho dúvida de que a saída de qualquer crise e do processo de competitividade passa necessariamente pelo conhecimento; e o conhecimento passa por uma ciência de alta qualidade”, disse Elias.
RECOMPOSIÇÃO DOS RECURSOS DO FNDCT
O secretário do MCTI aproveitou o momento para reiterar a necessidade da recuperação dos recursos do Fundo CT-Petro que são repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) – principal fomentador das pesquisas nacionais. Constituídos por contribuições compulsórias de setores como o de petróleo, energia elétrica, transporte e informática, os recursos do Fundo estão em constante ameaça pelos contigenciamentos, o que impacta diretamente na redução da capacidade de investimentos nas pesquisas científicas e tecnológicas. Nesse caso, Elias lembrou o papel da ABC e SBPC na luta pela recuperação dos recursos do Fundo.
Ainda que reconheça o avanço cientifico nacional, e igualmente o da economia brasileira nos últimos anos, Elias vê necessidade de traçar estratégias científicas e tecnologias para o desenvolvimento do País dar um salto de qualidade nos próximos anos. “Qual é o movimento que devemos fazer para colocar o Brasil definitivamente no cenário internacional?”, pergunta Elias.
Buscando responder seu próprio questionamento, Elias acredita que o Fórum Mundial de Ciência no território nacional deve ajudar o Brasil a identificar as prioridades. Ele citou como referência o programa do governo dos Estados Unidos lançado neste ano, para o qual destinou US$ 65 bilhões, dando prioridade a três “temas centrais”: capacitação de recursos humanos, à ciência como uma estrutura econômica e à estruturação da pesquisa laboratorial. Segundo Elias, essa é a construção de uma política pública em que o Brasil precisa se focar nos próximos anos.
VISIBILIDADE DA CIÊNCIA BRASILEIRA NO EXTERIOR
De acordo com Elias, o Brasil começa a despontar em revistas internacionais como um País com potencial de investir na produção científica. Ele citou, por exemplo, uma pesquisa publicada na Nature com 2,3 mil cientistas internacionais. A revista, disse Elias, citou o Brasil como o único país latino dentre os demais pesquisados que devem ter impacto positivo na ciência em 2020. Como ponto favorável, o secretário do MCTI acrescentou que a maioria dos cientistas declarou que se mudaria para esses países caso fossem convidados.
Os encontros do Fórum no Brasil são realizados pela SBPC, ABC, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), UFMG e MCTI, dentre outros órgãos.
Fonte: Jornal da Ciência, por Viviane Monteiro