‘Fogo selvagem’ atinge mais índios e pessoas de áreas rurais
CIÊNCIAemPAUTA. por Rosilene Correa
Os índios e as pessoas que residem em áreas rurais são mais suscetíveis a desenvolver o pênfigo, uma doença não muito comum e relativamente grave conhecida popularmente como fogo selvagem, que tem como característica o aparecimento de bolhas aquosas na pele. A informação foi apresentada durante a V Jornada Científica da Fundação Alfredo da Matta (FUAM), pelo pesquisador e dermatologista Iphis Tenfuss Campbell, da Universidade de Brasília (UNB), que estuda a incidência da doença no Brasil há 30 anos.
O pesquisador fez o mapeamento de ocorrência, levantamento histórico e a avaliação de grupos diferentes de pessoas que desenvolveram a doença, que tem como característica única ser endêmica e autoimune. “A doença não é infecciosa, ou seja, não é transmissível. Ela surge, mas não passa de uma pessoa para outra, isso porque é provocada por anticorpos que o próprio indivíduo faz contra as células da pele provocando a bolha”, descreveu.
Não se sabe, de acordo com o médico, a causa do fogo selvagem. Os estudos mais recentes realizados pelo pesquisador apontam os fatores genético, ambiental e imunológico como elementos que possibilitam a ocorrência da doença. “A causa da doença é desconhecida, e esse é o grande enigma do pênfigo. O que sabemos é que a pessoa precisa ter predisposição à doença, por isso o fator genético. Quanto ao fator ambiental, sugere-se que seja uma picada repetida do mosquito borrachudo que acaba por reagir com o fator genético e através do fator imunológico, que é a criação desses anticorpos, o indivíduo venha a desenvolver a doença”, explicou.
PRIMEIROS REGISTROS
![Conhecida popularmente como fogo selvagem a doença tem como característica o aparecimento de bolhas aquosas na pele. Foto: DivulgaçãoConhecida popularmente como fogo selvagem a doença tem como característica o aparecimento de bolhas aquosas na pele. Foto: Divulgação](http://temporario.seplancti.am.gov.br/wp-content/uploads/2013/08/penfigo_foliaceo3.jpg)
Conhecida popularmente como fogo selvagem a doença tem como característica o aparecimento de bolhas aquosas na pele.
Campbell informou que os primeiros registros da doença são do início do século 19, no Estado de São Paulo. “Os primeiros registros da doença são do início do século retrasado, no Estado de São Paulo, com a urbanização ela desapareceu. Nos anos seguintes, a doença se espalhou para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, seguindo a onda de desmatamento e desenvolvimento dessas regiões”.
Por todos esses aspectos os estudos indicaram que os indígenas e as pessoas que vivem nas áreas rurais de regiões endêmicas como a Amazônia têm mais chance de desenvolvê-la, como explica o dermatologista. “Os indígenas por viverem em áreas de floresta têm uma frequência bem alta dessa infecção, assim como, as pessoas que habitam as regiões rurais. O pênfigo existe no Brasil há mais de um século e até hoje não se elucidou completamente a sua etiologia”, frisou.
TRATAMENTO
O médico explicou que a identificação da doença é feita através de exames laboratoriais e que o tratamento é geralmente à base de cortisona. “O cortisona é um medicamento que traz alguns efeitos colaterais, por isso o paciente precisa de acompanhamento. E o pênfigo, por se tratar de uma doença que não ocorre com muita frequência, é muitas vezes negligenciada pelo paciente, se ela ocorre na forma pequena não muito forte ela pode ficar lá e a pessoa não liga para ela”.
O médico informou que apesar de o prognóstico da doença ter melhorado com os novos recursos de tratamento, é necessário lembrar que ela continua a ser relativamente grave, necessitando de imediatos cuidados ao se apresentar. “Um diagnóstico seguro e precoce significa nestes casos, como sempre, maior probabilidade de sucesso no tratamento”.
CIÊNCIAemPAUTA, por Rosilene Correa