Passagem do cometa Ison mobiliza cientistas
Quando foi descoberto no fim de setembro do ano passado, o cometa Ison logo ganhou a atenção da comunidade astronômica mundial. Afinal, era o primeiro visitante identificado como vindo diretamente da Nuvem de Oort, aglomerado de bolas de gelo, poeira e rocha que circunda o Sistema Solar a cerca de um ano-luz de distância, em pelo menos 200 anos. Sem nunca ter se aproximado do Sol, o Ison ainda guarda todo material de sua formação, o que também gerou a expectativa de que poderia ficar muito brilhante a medida em que evaporasse e criasse a coma (cabeleira) e cauda típicas dos cometas na sua passagem pelo interior do Sistema Solar. Assim, também logo surgiram especulações e boatos de que Ison seria o “cometa do século”, maior do que a Lua cheia e visível a olho nu mesmo durante o dia a partir do fim de outubro.
Exageros à parte, de lá para cá astrônomos profissionais e amadores têm acompanhado o comportamento do Ison e agora a expectativa é de que ele dificilmente será o “espetáculo celeste” inicialmente apregoado, principalmente no Hemisfério Sul, onde surge no céu apenas pouco antes do amanhecer. Atualmente ainda na altura da órbita de Marte, do qual passará a meros dez milhões de quilômetros em 1º outubro, o cometa não ganhou o brilho esperado diante da forte atividade que apresentou quando estava mais longe.
Assim como todos os demais objetos do Sistema Solar, com exceção do Sol, o Ison não produz luz própria: seu brilho depende da reflexão da luz gerada por nossa estrela no material por ele expelido, isto é, quanto mais dele for vaporizado para formar a coma e a cauda, mais brilhante pode ficar. Desta forma, sua atividade agora “tímida” indica pouca visibilidade ao menos até o periélio – ponto de maior aproximação do Sol, previsto para 28 de novembro, quando chegará a menos de 1,2 milhão de quilômetros de nossa estrela.
Caso sobreviva ao “encontro”, porém, as perspectivas são melhores, já que o calor e a gravidade do Sol podem fazer com que ele libere mais material, aumentando o tamanho da coma e cauda e, consequentemente, sua superfície de reflexão da luz solar. “Aparentemente o Ison não vai ser tão brilhante quanto se esperava, mas os cometas são imprevisíveis e ele ainda pode surpreender. O problema é que muitos cometas nos últimos cem anos tiveram previsões de que seriam espetaculares e depois a decepção foi geral. Assim, o que nos resta é esperar e ver como o Ison vai se comportar” , diz Fernando Roig, astrônomo do Observatório Nacional especialista em asteroides, cometas e meteoros.
Mas, embora no momento a probabilidade seja de que o Ison possa ser visto a olho nu apenas a partir da segunda metade de novembro e no início de dezembro, pouco antes e depois do periélio, fazendo dele apenas uma curiosidade para o observador ocasional, para os cientistas ele ainda é o “cometa do século”. Isso porque pela primeira vez na História os astrônomos contam com uma armada de telescópios espaciais e em terra capazes de fazer observações em uma ampla gama do espectro eletromagnético.
Do infravermelho ao ultravioleta, passando pela luz visível, eles estão mobilizando variados instrumentos para acompanhar a passagem do Ison e melhor entender o que e como é a Nuvem de Oort, a hipotética fronteira física final do Sistema Solar, onde a gravidade do Sol começa a perder a batalha contra a das demais estrelas da galáxia.
Entre os equipamentos mobilizados pelos cientistas para observar o Ison estão os telescópios espaciais Hubble (luz visível) e Spitzer (infravermelho), além dos observatórios solares SDO, SOHO e Stereo (ultravioleta) e mesmo sondas na órbita e na superfície de Marte, como a MRO e sua câmera de alta resolução HiRise, a Mars Express e o veículo-robô Curiosity, para aproveitar sua grande aproximação com o planeta nos próximos dias.
Fonte: O Globo