Pesquisa sobre Ipê amarelo e venenos de serpentes gera patente
Acidentes com animais peçonhentos são cada vez frequentes nos centros urbanos. Isso ocorre devido à crescente proximidade da civilização a meios não urbanizados e, também, pelas precárias condições de saneamento básico que possibilitam a proliferação de escorpiões, aranhas e ratos, que, apesar de não serem peçonhentos, são fonte de alimento para serpentes.
Para combater os efeitos dessa interação, pesquisadores da rede de pesquisa Inovatoxin (Inovação com Peçonhas de Animais da Biodiversidade da Região Centro-Oeste: aplicações terapêuticas, toxicologia e aplicações), da Rede Pró-Centro-Oeste, desenvolveram um antídoto a partir do extrato de uma planta típica do Cerrado: o Ipê Amarelo (Tabebuia aurea).
Segundo o Ministério da Saúde, 88% dos acidentes ofídicos no Brasil são botrópicos (causados por serpentes do gênero Bothrops, como a jararaca, por exemplo) e o Centro-Oeste é a região com a taxa de incidência mais elevada do País. O envenenamento por serpentes botrópicas é severo, pois provoca efeitos sistêmicos, inflamação e necrose, resultando em perdas de tecidos ou, até mesmo, na necessidade de amputação do membro afetado.
Com a intenção de encontrar recursos que melhorem os tratamentos de vítimas de acidentes botrópicos, a pesquisadora Mônica Kadri, da UFMS, iniciou pesquisa que teve como inspiração relatos populares e como base um levantamento realizado no estado sobre o consumo de plantas da região com efeitos medicinais. Neste levantamento, o ipê (gênero Tabebuia) foi indicado para “mordedura de cobra” [sic] por ter propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes.
“A partir disso, surgiu a ideia de investigar as atividades antiofídicas do extrato de Tabebuia aurea [ipê amarelo] em camundongos estimulados com o veneno de serpentes botrópicas da região Centro-Oeste, na tentativa de buscar novos inibidores da ação do veneno que possam complementar a soroterapia, na reversão do quadro de lesões locais causadas pelo envenenamento”, explica Kadri.
Os pesquisadores investigam o potencial do extrato do ipê amarelo como antídoto para o veneno de três espécies botrópicas predominantes na região Centro-Oeste: a caiçaca (Bothrops moojeni), a boca-de-sapo (Bothrops neuwiedi/Bothropoides mattogrossensis) e a jararaca (Bothrops jararaca).
O ipê amarelo é uma árvore típica do Cerrado, encontrada em larga escala tanto em zonas silvestres quanto em urbanas. Podendo atingir 15 metros de altura, apresenta vasta floração, com folhas que caem dos galhos no inverno deixando as flores expostas. O extrato é obtido a partir da pulverização da casca do ipê e extração com álcool etílico.
Com os resultados da pesquisa até o momento, constatou-se que o extrato foi capaz de reduzir o número de células inflamatórias para o local da picada e a hemorragia provocada pelos três venenos botrópicos; minimizar o edema local e a atividade miotóxica provocada pelo veneno de caiçaca (B. moojeni). A pesquisa resultou no depósito da patente do processo para a obtenção de extratos com propriedades anti-inflamatórias a partir de espécies do gêneroTabebuia.
Fonte: Rede Pró-Centro-Oeste