Estudo aponta potencial de fibras amazônicas no mercado internacional

O Amazonas pode despontar, nos próximos anos, como o principal exportador de fibras vegetais de origem não lenhosa para utilização em países europeus. A previsão é da mestre em Ciência e Tecnologia da Madeira, pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, e pesquisadora Alessandra de Souza Fonseca.

De acordo com Fonseca, o interesse na utilização de fibras vegetais por diferentes segmentos da indústria é crescente e as fibras de palmeiras amazônicas podem se tornar uma importante matéria-prima alternativa.

Estes dados estão disponíveis no projeto de pesquisa intitulado ‘Caracterização tecnológica das fibras de estipe de Demoncus polyacanthos Mart‘, desenvolvido com aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Posgrad).

“A jacitara (Desmoncus poluacanthos Marth.) é considerada fonte potencial de matéria-prima fibrosa devido à utilização, de forma rústica, de suas fibras por índios, caboclos e ribeirinhos na região amazônica”, argumentou Fonseca. A pesquisadora esclareceu ainda que o objetivo da pesquisa era a caracterização tecnológica das fibras de jacitara para demonstrar que a palmeira amazônica pode ser explorada comercialmente de forma sustentável pelo mercado mundial de fibras vegetais.

MÉTODO DE ESTUDO

Ao longo da pesquisa, foi realizada coleta de 15 estipes de jacitara da Área de Proteção Ambiental da margem direita do Rio Negro, localizada no município de Novo Airão. As coletas foram limpas e analisadas anatômica, química, física e mecanicamente.

Segundo Fonseca, para caracterização anatômica, foi realizado um estudo da estrutura microscópica. No estudo químico, foram determinados os constituintes estruturais e nas caracterizações física e mecânica, foi determinado a densidade real, a perda de massa, além das propriedades de resistência à tração e elasticidade.

“Levando-se em consideração todas as características apresentadas pelas fibras, concluímos que a palmeira amazônica jacitara apresenta possibilidade de utilização similar às espécies comercialmente exploradas, principalmente no que diz respeito à aplicação de fibras como reforço de compósitos, já que apresentam resistência e dureza”, salientou a pesquisadora na conclusão do projeto de pesquisa.

Fonseca ponderou ainda que devem ser feitos estudos específicos que confirmem a potencialidade da jacitara a fim de que favoreçam sua utilização na produção de papel e em outras formas de uso comum às fibras vegetais.

FIBRAS AMAZÔNICAS

A jacitara é uma palmeira, distribuída em sub-bosques e encontrada em abundância na floresta amazônica — especialmente nos municípios de Novo Airão e Barcelos —, restingas litorâneas e formações florestais do complexo atlântico. No Brasil, as fibras vegetais são utilizadas, por exemplo, para produção de pasta de celulose para posterior fabricação de papel.

No Amazonas, muitas famílias que vivem ao longo da bacia do Rio Negro complementam sua renda com extrativismo de fibras vegetais, além de utilizar as fibras para confecção de artefatos e utensílios domésticos utilizados no cotidiano diário.

É o que ocorre, por exemplo, no município de Novo Airão onde os artesãos usam as fibras de jacitara para fazer detalhes em preto ou vermelho nos produtos confeccionados com cipó. Em Barcelos, os artesãos usam a fibra para fazer tipiti, padeiro, atuá, abano e peneiras usados somente nas atividades domésticas e para produção agrícola.

Sobre o RH-Posgrad

O Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas – RH-Posgrad tem por objetivo conceder bolsas de mestrado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em Programa de Pós-Graduação recomendado pela Capes em outros Estados da Federação.

Fonte: Agência Fapeam, por Camila Carvalho