Aplicativo desenvolvido no AM ajuda pais e professores na educação infantil
CIÊNCIAEMPAUTA, POR MIRINÉIA NASCIMENTO
Escovar os dentes, tomar banho, alimentar-se, ir à escola, e ser alfabetizado são algumas das atividades que fazem parte da rotina da maioria das crianças. No entanto, para as crianças portadoras do Transtorno do Espectro do Autismo essas Atividades da Vida Diária (AVD’s) não são desempenhadas tão normalmente assim.
Para ajudar pais e professores na educação especial e nas atividades diárias das crianças autistas, já está disponível para download gratuito, nas versões Android e Desktop, o aplicativo ‘Lina Educa’, com a proposta de auxiliar o desenvolvimento da capacidade intelectual da criança, gerando noções de organização para que ela possa se habituar a uma rotina diária e educacional.
Idealizado pela design gráfica, Alice Gomes, o aplicativo é resultado do trabalho de conclusão do curso de Design Gráfico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), apresentado em 2007, sob a orientação da professora, Claudete Barbosa. Dividido em dois níveis, o software possui uma linguagem simples e conta com recursos de animação gráfica, desenvolvidos pelos alunos do curso de design da universidade. Essas ilustrações permitem que pais e educadores possam mostrar visualmente para as crianças as etapas que elas devem cumprir. “Existem outros softwares voltados para a comunicação com os autistas, porém com a proposta de alfabetização e ajuda nas atividades da vida diária, o Lina Educa é o primeiro desenvolvido no Brasil. O sistema permite também a impressão das imagens”, salientou Barbosa.
Na área das AVD’s, o sistema é composto por oito etapas com o passo-a-passo que a criança deverá seguir para executar por completo uma atividade, como escovar os dentes, tomar banho, comer, entre outras. Além disso, pode ser personalizado com a inserção de mais etapas, inclusive com a foto da criança, de acordo com a necessidade de cada um.
No apoio ao processo de alfabetização, o método usado é chamado de ‘Equivalência de Estímulos’, que utiliza a relação entre estímulo/resposta permitindo que a criança aprenda a fazer relações entre imagens, sons e palavras que são treinadas. Assim, o processo de alfabetização utiliza a motivação para que a criança faça a identificação de letras, palavras e imagens, construindo relações ao mesmo tempo em que adquire seu vocabulário. O sistema possui 17 grupos de palavras. O aprendizado é feito por meio do treino de um grupo de três palavras onde um novo grupo só é iniciado quando a criança aprender o grupo treinado.
“Quando a criança acerta, ela precisa de um estímulo. Assim, a tartaruguinha chamada Lina festeja junto com a criança o acerto”, enfatizou a professora, explicando a origem do nome do aplicativo. “O nome foi escolhido pela Alice por ser um nome fácil e porque a maioria dos educadores são mulheres, refletindo numa interação maior das crianças com o sexo feminino”.
O aplicativo foi testado durante três meses com 13 crianças autistas atendidas pelo Instituto Autismo no Amazonas. De acordo com o diretor do Instituto, Joaquim Melo, o sistema, para o que ele se destina, ajuda na parte educacional com métodos específicos através de sílabas. Sobre o número de autistas no Amazonas, Melo informou que não existe uma estatística precisa da quantidade de autistas no Brasil e que o parâmetro considerado é feito em cima de estatísticas dos Estados Unidos. “No Brasil, a estimativa é que 1% da população seja autista. Esse percentual é considerado para todos os estados do País, estimando que o Amazonas possua cerca de 20 mil pessoas com o transtorno”.
Para Silvia Maria, mãe de Marcelo Augusto, de 8 anos, o aplicativo auxilia as crianças a realizarem as atividades do dia-a-dia dando agilidade a esse processo. “O Marcelo está num nível mais avançado do que as outras crianças que participaram dos testes. Mas, para chegar a este nível o processo foi muito lento. O Lina Educa veio para acelerar esse processo de educação e vai ajudar muito aos pais e professores”, declarou.
VIVER MELHOR/PRÓ-ASSISTIR
Segundo Barbosa, desde a apresentação do projeto, as pesquisadoras vinham buscando financiamentos para materializar o aplicativo proposto no trabalho. “Foi com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Edital n. 006/2012-Pró-Assistir, que realizamos um sonho”.
O aplicativo ‘Lina Educa’ foi um dos oito projetos voltados para tecnologias assistivas contemplados em 2012, pelo Programa Estadual de Atenção à Pessoa com Deficiência – Viver Melhor/Edital de Apoio à Pesquisa para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva (Viver Melhor/Pró-Assistir), financiado pela Fapeam.
Todos os oito projetos resultaram em produtos. Diante desse resultado, o portal CIÊNCIAemPAUTA periodicamente produz matérias que compõem uma Série de Reportagens para que a sociedade tenha conhecimento dos produtos desenvolvidos e de suas aplicabilidades.
CIÊNCIAEMPAUTA, por Mirinéia Nascimento