Integração virtual no ensino permite formação acadêmica em cidades do AM
CIÊNCIAEMPAUTA, POR MIRINÉIA NASCIMENTO
São quase seis mil alunos em 57 municípios do Amazonas, conectados, assistindo aulas transmitidas em tempo real, interagindo com os professores, e esclarecendo as dúvidas por meio de chat e vídeo. Educação a Distância? Não. Trata-se de uma modalidade de ensino pioneira, implantada há 12 anos na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), chamada Ensino Presencial Mediado por Tecnologia (EPMT).
Diferente da educação a distância, o EPMT faz uso de um modelo educacional interativo utilizando recursos da tecnologia da TV Digital, como videoconferências, possibilitando que alunos assistam as aulas como se estivessem pessoalmente com o professor, rompendo o conceito de separação física entre eles, aproximando-os pela integração virtual.
Segundo dados da secretaria geral acadêmica da UEA, desde a criação do EPMT, em 2002 – mesmo ano de criação da Universidade – até 2012, mais de 17 mil pessoas se formaram em seis cursos nos municípios do Amazonas. Em 2013, um total de 5.221 alunos concluíram os cursos de Bacharelado em Saúde Coletiva, Tecnologia de Gestão Pública, Licenciatura em Matemática, Bacharelado em Ciências Econômicas e Pedagogia Intercultural Indígena (Proind). Atualmente, 5.941 alunos participam desses cursos, e no segundo semestre de 2014, os cursos de Educação Física e Tecnologia em Logística farão parte da grade curricular de ensino mediado por tecnologia.
A professora, Márcia Costa, que ministra a disciplina Vigilância em Saúde do curso de Saúde Coletiva, avalia o processo de ensino como um modelo que possibilita ao professor visualizar em tempo real o conhecimento obtido pelos alunos no momento em que o conteúdo de uma disciplina está sendo ministrado, permitindo a troca de conhecimento como se estivessem em uma sala de aula tradicional. “Essa modalidade de ensino está possibilitando a formação de profissionais com capacidade de realizar diagnósticos situacionais na comunidade onde moram sem haver a necessidade do deslocamento dos professores para os municípios ou dos estudantes para a Manaus”, ponderou.
Com a ajuda da coordenadora geral do curso de Licenciatura em Matemática do Ensino Presencial Mediado, professora Nadime Mustafa, o Portal CIÊNCIAemPAUTA entrevistou, com o mesmo sistema utilizado durante as aulas, dois alunos do sétimo período do curso de Licenciatura em Matemática dos municípios de Iranduba e Itapiranga.
Para o estudante, Elinei Bastos de Macedo, da cidade de Iranduba (distante 25 quilômetros de Manaus), embora separados geograficamente, o método de ensino acaba com o isolamento e aproxima os alunos de todos os municípios. Ele salienta que o ensino mediado é uma alternativa diante da realidade de que a UEA não conseguiria oferecer os cursos na modalidade presencial em todo o Estado. “Somos uma grande sala de aula. Fazendo uma comparação física é como se estivéssemos, todos os municípios, reunidos em uma única sala de aula”.
Macedo destaca como ponto positivo a possibilidade de interação com professores e com outros alunos e que essa modalidade é tão satisfatória quanto a modalidade de ensino presencial. “Quando estamos fazendo uma apresentação todos os outros municípios estão nos vendo, assim nós acompanhamos o trabalho das outras turmas”, explicou.
Adriano Rogério Martins Costa, de Itapiranga, disse que graças a essa tecnologia ele e seus colegas de turma estão tendo a oportunidade de estudar com professores capacitados da capital, mesmo estando a 225 quilômetros de distância de Manaus. “Contamos com a presença de mais de um professor nos auxiliando. A realidade é que a universidade não teria condições de custear a vinda desses profissionais para o nosso município. É muito gratificante o que a UEA nos oferece enquanto acadêmicos”, declarou Costa.
COMO FUNCIONA?
O sistema funciona em uma sala de aula comum em cada município com um computador, uma TV de 46 polegadas e uma estrutura de home theater.
As transmissões das aulas ocorrem em um estúdio de televisão localizado em Manaus, em tempo real e seguindo um roteiro padrão montado pelos professores titulares, obedecendo a limites de tempo, composto de intervalo e um horário estimado para a realização de dinâmicas locais.
Três professores participam das aulas, um titular e um auxiliar no estúdio e um professor assistente em sala de aula no município. Na dinâmica da aula, o professor titular tem um tempo de explanação e o professor assistente também possui um tempo para realizar a dinâmica local. Em seguida, há um tempo para que os alunos explanem sobre o tema em questão, interagindo com os demais municípios conectados ao sistema.
Na avaliação do coordenador que monitora o sistema, o engenheiro eletricista Carlos Alberto, o EPTV oportuniza um processo de aprendizagem interativo, oferecendo ao professor uma visão mais realista do seu trabalho. “Por meio do chat, os alunos colocam todas as suas dúvidas que surgem no decorrer da aula e o professor auxiliar começa a interagir na dinâmica da aula, sanando os questionamentos”, enfatizou. Segundo ele, a gravação das aulas possibilita uma avaliação posterior do conteúdo aplicado, servindo de subsídio para melhorias e adequações de aulas futuras. Os estudantes gravam as aulas em pendrives para assistirem em casa.
CIÊNCIAemPAUTA, por Mirinéia Nascimento