Regiões tropicais precisam rever estratégia de vacinação contra a gripe

A recomendação da OMS é para que países situados no hemisfério Sul vacinem suas populações entre os meses de abril e maio. Foto: Reprodução

Estudos recentes têm mostrado que países com grande extensão latitudinal, como o Brasil, precisam adotar duas políticas distintas de vacinação contra a gripe: uma que acompanhe o calendário recomendado para o hemisfério Sul e outra, o calendário do hemisfério Norte.

O alerta foi feito por Nancy Cox, diretora da Divisão de Influenza do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, em editorial publicado recentemente no Bulletin of the World Health Organization, editado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Hoje, a recomendação da OMS é para que países situados no hemisfério Sul vacinem suas populações entre os meses de abril e maio, enquanto no hemisfério Norte a imunização costuma ser indicada entre setembro e dezembro.

Em ambos os casos, na hora de formular a vacina, é feita uma previsão das cepas de influenza que estarão circulando nos meses de inverno com base em dados coletados por uma rede internacional de vigilância epidemiológica coordenada pela OMS.

“Em todos os países de clima temperado, há um pico sazonal na atividade do vírus influenza bem definido nos meses de inverno. No entanto, em países de clima tropical e subtropical, a sazonalidade do influenza é mais variável e sua atividade pode ser observada ao longo de todo o ano – sendo frequentemente mais intensa nos períodos chuvosos”, disse Cox no editorial.

A cientista do CDC comentou os resultados de um estudo realizado em dez países asiáticos – todos situados no hemisfério Norte – entre 2006 e 2011. A pesquisa, publicada na mesma edição do Bulletin of the World Health Organization, foi conduzida em Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã.

A análise mostrou haver circulação do vírus influenza durante todos os meses do ano, em todos os países. No entanto, dois padrões distintos ficaram evidentes. Na Indonésia, Malásia e em Cingapura, países próximos à linha do Equador, não era possível perceber um pico bem definido na atividade viral. Já nas outras sete nações – situadas mais ao norte, mas ainda na região tropical – foi visto um pico de atividade mais claro entre os meses de julho e outubro, período das chuvas de monções (e verão no hemisfério Norte).

“Esse pico contrasta com o pico de inverno típico da sazonalidade do influenza verificada nas regiões de clima temperado do hemisfério Norte. Uma mesma relação entre latitude e período de pico de influenza foi verificada no Brasil”, disse Cox, referindo-se a dados do primeiro artigo a levantar a questão, publicado em 2009 na PLoS One por cientistas brasileiros.

De acordo com Wladimir Alonso, um dos autores do estudo e pesquisador associado do Fogarty International Center do National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos, mesmo antes de 2009 já existia entre especialistas a suspeita de que a sazonalidade do vírus seria diferente em regiões tropicais. “Nós fizemos o primeiro artigo quantitativo sobre o tema”, contou.

O grupo brasileiro reuniu amostras de pacientes infectados pelo influenza coletadas no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e no Instituto Evandro Chagas, no Pará, entre 1999 e 2007. Foram então comparadas as cepas encontradas nas amostras com as cepas que fizeram parte da formulação da vacina do hemisfério Sul no ano correspondente.

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Fonte: Agência Fapesp