Pesquisa nacional alerta sobre aumento do número de cesárias na Região Norte
CIÊNCIAEMPAUTA, POR FABRÍCIO ÂNGELO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que o total de partos cesáreos em relação ao número total de partos realizados seja de 15%, pois segundo especialistas da instituição, o procedimento cirúrgico só é necessário quando existe uma situação real para a preservação da saúde materna ou fetal.
Mas não é o que está acontecendo em todas nas regiões do Brasil. Segundo a pesquisa “Nascer no Brasil: inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento”, divulgada no mês passado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), a proporção de cesárias está aumentando sistematicamente e refletindo mudanças nas práticas obstetrícias.
Para a coordenadora da pesquisa, professora doutora Maria do Carmo Leal, isso é um grave problema, indo de encontro ao que os países desenvolvidos vêm fazendo em relação às políticas de saúde da mulher. “Infelizmente a pesquisa comprovou que houve um aumento significativo no número de cesárias no País”, afirma.
Foram ouvidas 24 mil mulheres em 199 municípios de todas as regiões do Brasil, e o que se constatou foi que quase 50% dos partos no País são realizados por meio de cesária. “Na rede privada essa média chega a 88%”, alertou Leal.
Apesar do alto índice, a pesquisa chegou a uma conclusão intrigante, apenas 30% das mulheres entrevistadas disseram optar pelo procedimento. “Setenta por cento das parturientes tinham se decidido pelo parto vaginal, mas de alguma forma foram convencidas a não fazer”, disse a pesquisadora. De acordo com ela, um dos motivos alegados é a dor que a paciente pode ter durante o procedimento natural. “Temos um problema grave porque no Brasil não há preparação da mulher para esse modelo de parto e ainda são utilizadas técnicas antigas de intervenção. É preciso demonstrar que o parto normal só dói quando é mal conduzido. Além disso, o momento do parto é único e deixa de ser vivido em sua plenitude quando feito cirurgicamente”, disse.
REGIÃO NORTE
Conforme Maria do Carmo Leal, a cesária é mais frequente no Sul e no Sudeste, onde 50% dos nascimentos são realizados dessa maneira. “É perceptível que onde existem mais pessoas com plano de saúde, o procedimento cirúrgico é o mais utilizado. Isso reflete no Norte e Nordeste onde a maior parte dos partos é feita pelo sistema público. Entretanto, se formos fazer amostragem proporcional, a cesária tem se expandido nessas regiões”.
Outro problema que pode ser consequência da adoção do método cirúrgico é o aumento de nascimentos de bebês pré-maturos na região. “São mais de 13% de prematuridade contra uma média nacional de 9%”, alega Leal.
Ainda de acordo com a médica, o parto normal é muito bom para a mãe e para criança. Estudo publicado pelo Departamento de Doenças Crônicas do Instituto de Saúde Pública da Noruega associa algumas doenças crônicas, como a asma, à cesária. “Podemos relacionar vários problemas ao parto não natural, por exemplo, toda cirurgia tem risco e pode aumentar a chance da mulher ter problemas em gravidez futura”.
Os dados da pesquisa mostraram que 90% das pacientes de hospitais privados tiveram seu filho por meio de cesária, mesmo que a maioria não tivesse decidido por esse procedimento. “Há uma espécie de convencimento, não se respeita a vontade da paciente. É preciso que ela seja informada de todas as condições do procedimento antes de tomar a decisão. Já está comprovado que o procedimento cirúrgico não é a melhor opção. Traz danos para a mãe e para o bebê”, finalizou.
AMAZONAS
Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), em 2012, de um total de 41.169 nascimentos, 21.860 foram feitos por cesárea.
Em entrevista ao Portal D24, o diretor do Instituto da Mulher, Agnaldo Gomes da Costa, disse que, infelizmente, o Estado ainda tem um número considerado baixo de parto normal. “O Instituto da Mulher realiza cerca de 7,2 mil partos por ano, sendo que 60% são normais”, disse.
Na mesma matéria a presidente da Sociedade Amazonense de Ginecologia e Obstretícia, Hilka Flavia Espirito Santos, destaca que existem inúmeras causas que favorecem o alto índice de cesárea. “Muitas mulheres não fazem o pré-Natal, o que acaba favorecendo uma cirurgia na hora do parto. Associado a isso, tem a gravidez na adolescência”, disse, acrescentando que muitas adolescentes não têm infraestrutura física para encarar um parto normal”, disse.
CIÊNCIAemPAUTA, por Fabrício Ângelo