Museu Britânico expõe esqueletos de humanos mortos em batalha há 13 mil anos

Maneira como corpos foram dispostos mostra preocupação com o sepultamento. Foto: Divulgação

Fósseis da guerra mais antiga de que se tem notícia estão à mostra no Museu Britânico, em Londres. São dois esqueletos que apresentam indícios de morte brutal acontecida há cerca de 13 mil anos. Eles foram descobertos junto com outros 59 ossadas que estavam enterradas no mesmo local, às margens do Rio Nilo, em Jebel Sahaba, onde hoje fica o Norte do Sudão. Junto com os fósseis, há pedras muito afiadas que são remanescentes de armas antigas.

“Esta descoberta foi de grande importância por dois motivos. Em primeiro lugar, o questionamento de como um cemitério foi utilizado ao longo de várias gerações sendo um dos primeiros cemitérios formais do mundo. Antes desta descoberta, conhecia-se apenas sepulturas isoladas ou grupos de até três corpos enterrados no Vale do Nilo. Mas talvez ainda mais significativo, entre 61 homens, mulheres e crianças enterrados em Jebel Sahaba, pelo menos 45% deles morreram de feridas, fazendo desta a mais antiga evidência de violência intercomunitária no registro arqueológico”, afirmou o curador da exposição do Museu Britânico René Friedman.

A pesquisa mostrou que os corpos foram enterrados com muito cuidado. Dispostos deitados com o rosto para a esquerda, o olhar ficava para o leste, em direção à nascente do rio e do sol, os dois elementos necessários para sobreviver na região.

Atualmente, o cemitério de Jebel Sahaba encontra-se submerso sob as águas da barragem de Assuão. Os novos estudos só foram possíveis devido uma doação de uma pesquisa anterior. Na década de 1960, o arqueólogo americano Fred Wendorf, fez uma série de escavações no local, financiadas pela Unesco, para recolher o maior número de artefatos possíveis antes que as águas tomassem conta da região. Uma das ações desenvolvidas na época foi o desmantelamento do templo de Abu Simbel e sua reconstrução em um terreno mais alto.

Wendorf recuperou os restos de 61 indivíduos e das armas que os mataram. Quando se aposentou da Universidade Southern Methodist do Texas, em 2001, ele doou sua coleção, incluindo notas de pesquisa, fotografias e desenhos da região, para o Museu Britânico. Para Friedman, as descobertas de Wendorf ajudam a compreender um período histórico remoto.

“As razões para toda essa violência provavelmente se resume ao clima. As geleiras da Idade do Gelo, cobrindo grande parte da Europa e América do Norte fez o clima no Egito e Sudão ficar frio e árido. O único lugar para ir era o Nilo mas o seu regime era irregular: dependendo da data exata, o rio tinha uma elevação de água alta e agitada ou baixa e lenta. De qualquer forma, houve pouca terra viável para se viver e os recursos devem ter sido escassos. A competição por alimento pode muito bem ter sido a razão para o conflito com mais grupos agrupados em torno das melhores áreas de pesca e coleta e relutantes ou incapazes de se afastarem”, escreveu Friedman em seu blog relatando as conclusões da pesquisa.

Fonte: O Globo