Mesa-redonda debate mudanças climáticas que afetam peixes amazônicos
As estratégias de combate às mudanças climáticas que podem afetar o setor produtivo da piscicultura foi a tônica das discussões de uma mesa-redonda, realizada no dia 25, durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal do Rio Branco (Ufac).
A mesa-redonda, coordenada pela pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Vera Maria Fonseca de Almeida Val, também contou com a participação dos professores das Universidades de Mogi das Cruzes (UMG) e Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandre Wagner Silva Hilsdorf e Evoy Zaniboni Filho, respectivamente.
Conforme Vera Val, é consenso que o aumento da temperatura e do gás carbônico está afetando diferencialmente algumas espécies, no caso da Amazônia. “A espécie principal de estudo é o tambaqui, peixe mais cultivado na região Norte e promessa para distribuição no País. Isso porque em várias regiões já existem cultivos. A ideia da pesquisa é verificar o quanto o mesmo é afetado em cenários em que há o aumento da temperatura e do gás carbônico”, salientou.

Vera Val disse ser consenso que o aumento da temperatura e do gás carbônico está afetando algumas espécies de peixes, no caso da Amazônia. Foto: Érico Xavier/Agência Fapeam
As mudanças nas espécies podem afetar a taxa de crescimento, conversão alimentar e ganho de peso, segundo a pesquisadora. Ela afirmou que pode haver tanto benefício quanto prejuízo. Contudo, depende muito da cadeia produtiva e também das consequências das mudanças em outros organismos. “A cadeia produtiva é muito grande, vai desde a qualidade da água, do pescado, do tipo de peixe, da alimentação que o mesmo tem, passa pelo crescimento, espinhas ou não espinhas. Tudo é passível de ser melhorado geneticamente”, afirmou.
RECURSOS GENÉTICOS E VALORIZAÇÃO
Durante a mesa-redonda, Alexandre Hilsdorf falou sobre como a conservação dos recursos genético dos peixes de água doce, tanto na pesca como na aquicultura, são fundamentais frente às possíveis mudanças climáticas.
Coordenador do Laboratório de Genética de Peixes e Organismos Aquáticos da UMG, Alexandre Hilsdorf disse que é preciso conservar os recursos genéticos da natureza, pois são fundamentais para a utilização sustentável ao longo prazo, por exemplo, produção econômica que envolve a geração de emprego e renda.
Na natureza, o peixe é a fonte genética para os programas de domesticação, de acordo com Alexandre Hilsdorf. “Aproveitamos diferenças genéticas para fazermos peixes mais produtivos e resistentes às doenças, que se adaptam melhor ao manejo”.
Compartilhando da mesma opinião de Alexandre Hilsdorf e Vera Val, Evoy Zaniboni disse que é preciso ter estratégicas de valorização da piscicultura de espécies nativas da Amazônia, com ênfase ao tambaqui e matrinxã. Ele enfatizou que há equívocos que ocorrem na piscicultura nacional e propôs correções para torná-la sustentável e centrada, principalmente, em espécies nativas e não em espécies exóticas e híbridas como é o modelo nacional.
APOIO À PISCICULTURA
O Governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), tem apoiado pesquisas relacionadas ao desenvolvimento da piscicultura como estratégia para o desenvolvimento dos municípios do interior.
Dentre elas está o ‘Mapeamento cromossômico e caracterização de elementos transponíveis do tambaqui de piscicultura’, desenvolvido no Inpa pela doutora em Biologia de Água Doce e Pesca interior, Eliana Feldberg, e o ‘Pesquisa e transferência tecnológica: ferramentas fundamentais para o desenvolvimento da aquicultura no Estado do Amazonas’, coordenado pelo doutor em Ecologia e pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), Jackson Pantoja.
Os projetos são financiados, respectivamente, pelos Programas de Apoio à Pesquisa (Universal-Amazonas) e Estratégico de Transferência de Tecnologias para o Setor Rural (Pró-Rural).
Fonte: Agência Fapeam por Josiane Santos e Camila Carvalho