Estudo aborda gestação, parto e pós-parto de índios Munduruku

Foram oito meses de pesquisa de campo, quando foram realizadas observação participante, entrevistas, coletas de narrativas e dados secundários. Foto: Raquel Scopel

Apresentar a forma como os Munduruku vivenciam a gestação, o parto e o pós-parto em tempos em que se procura valorizar, reconhecer e respeitar a diversidade étnica e cultural dos povos indígenas no Brasil e a necessidade de minimizar os processos de medicalização da saúde indígena sem abrir mão do direito de cidadania de acesso aos serviços de saúde biomédicos. Essa foi a motivação da pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane/Fiocruz Amazônia, Dr.ª Raquel Paiva Dias-Scopel, para realizar um estudo que resultou na sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Na tese “A cosmopolítica da gestação, parto e pós-parto: práticas de autoatenção e processo de medicalização entre os índios Munduruku”, a pesquisadora apresenta uma etnografia das práticas de autoatenção relativas à gestação, parto e pós-parto entre os índios da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, localizada em Borba, no Amazonas, feita a partir da abordagem da antropologia da saúde.

Com o estudo observou-se que as mulheres têm articulado as práticas biomédicas (modelo médico oficial) com as práticas indígenas de atenção à saúde, apesar das diferenças radicais entre elas.

“Elas têm participado do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, por meio das consultas de acompanhamento pré-natal, ao mesmo tempo em que consultam parteiras, pajés e as mulheres mais velhas da família extensa para “pegar barriga”, “puxar a mãe do corpo”, fazer “banhos”, além de seguirem uma dieta alimentar e cumprirem um conjunto de prescrições e proibições acerca das atividades diárias de trabalho e de lazer”, explicou.

A etnografia apontou que para os Munduruku, a gestação, parto e pós-parto não são estados fisiológicos peculiares às mulheres apenas, mas, sim, processos de caráter social, que envolvem relações entre homens, mulheres e demais seres que habitam o cosmo.

Dentre os Munduruku, a biomedicina é um recurso de atenção à saúde com o qual pretendem contar e prevenir, solucionar, minimizar ou tratar questões relativas às enfermidades. No nível das práticas de autoatenção à saúde, verificou-se que as populações indígenas têm articulado os diferentes saberes (modelo médico e indígena) na tentativa de aumentar a qualidade de vida da população local, apesar da crescente expansão da medicalização do parto entre os indígenas no Brasil, demonstrando a potencialidade dos saberes locais nos processos de saúde/doença/atenção.

A pesquisadora concluiu que há um processo crescente de medicalização da gestação, parto e pós-parto entre as populações indígenas, que tem avançado nas aldeias apesar das iniciativas dos movimentos sociais e governamentais para a humanização do parto e nascimento em âmbito mundial e nacional e apesar das práticas indígenas Munduruku no trato à gestação, parto e pós-parto continuarem intensamente ativas. Também verificou que o subsistema de atenção à saúde indígena tem se mostrado, ainda, com graves dificuldades, desde a falta de recursos financeiros suficientes, problemas operacionais até falta de equipes devidamente capacitadas.

Foram oito meses de pesquisa de campo, quando foram realizadas observação participante, entrevistas, coletas de narrativas e dados secundários. Para desenvolver o estudo a pesquisadora contou com o apoio da Fapeam, que concedeu bolsa pelo Programa de Formação de Doutores em Áreas Estratégicas – Edital n. 006/2011, PDAEST/AM/CNPq.

Fonte: ILMD/Fiocruz Amazônia