Parasita da leishmaniose deixa mosquito transmissor mais forte
O mosquito Lutzomyia longipalpis, uma das espécies do inseto flebotomíneo, é um dos principais transmissores da leishmaniose visceral e tem sido alvo de várias pesquisas que buscam combater a doença.
Uma das estratégias estudadas pelos pesquisadores é atacar a própria leishmania — o protozoário causador da enfermidade passado aos humanos pelo inseto. Durante muito tempo, ele foi considerado um vilão para o mosquito. Mas um novo estudo feito em parceria com pesquisadores do Reino Unido e do Brasil mostra que essa tática pode ser ineficaz. Os cientistas realizaram um experimento que teve efeito contrário: ao ser contaminado pelo parasita, o animal se tornou ainda mais forte.
No trabalho, os cientistas dividiram uma comunidade de Lutzomyia longipalpis em dois grupos. O primeiro foi alimentado com sangue infectado pela Leishmania mexicana. Algum tempo depois, os mosquitos receberam uma solução contendo a bactéria Serratia marcescens, principal micro-organismo causador de morte desses insetos. O segundo grupo recebeu apenas a solução com a bactéria.
Comparando os dados, os cientistas verificaram que, diante do micro-organismo letal, os insetos infectados pela leishmania tiveram uma taxa de sobrevivência cinco vezes maior: 56% contra apenas 11% no grupo sem a bactéria. “Antes, pensava-se que a leishmania poderia ser prejudicial aos insetos, mas, agora, vemos que ela serve como um protetor. Torna o mosquito mais forte frente a uma bactéria”, destaca Fernando Genta, pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do Instituto Oswaldo Cruz e um dos autores do artigo.
Genta explica que os protozoários funcionam como um probiótico, por se instalarem dentro do estômago dos insetos. “Eles preenchem um espaço que não pode ser ocupado por outras substâncias e geram efeito benéfico à flora intestinal, contribuindo para um melhor funcionamento do organismo do mosquito”, explica.
Antes, acreditava-se que o parasita comprometia a alimentação da fêmea do inseto e reduzia a quantidade de ovos gerados por ela, prejudicando a disseminação da doença. “Com esses novos dados, vemos que essa teoria inicial não está correta”, destaca o pesquisador.
Fonte: Correio Braziliense