Ildeu de Castro Moreira, doutor em Física pela UFRJ

CIÊNCIAemPAUTA, por Alessandra Karla Leite

Ildeu de Castro Moreira é criador da SNCT. Foto: Eduardo Gomes/CiênciaEmPauta

Doutor em física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu de Castro Moreira, é professor do Instituto de Física da UFRJ e do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia. Trabalha nas áreas de física teórica (sistemas não-lineares), de história da ciência, em particular história da ciência no Brasil, e comunicação pública da ciência. Desenvolve atividades nas áreas de ensino de física e divulgação científica, dedicando-se também à edição de livros científicos e de divulgação.

Coordenou a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) nos anos de 2004 a 2012 e vem todos os anos a Manaus participar de atividades relacionadas ao evento. Em 2014, participou da abertura da II Semana de Ciência e Tecnologia do Instituto de Ciências Exatas (ICE), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no dia 14 de outubro.

O evento teve a duração de três dias com múltiplas atividades e participações de pesquisadores do Brasil inteiro.

Confira abaixo a entrevista que o físico concedeu à equipe do Portal CIÊNCIAemPAUTA. 

CIÊNCIAemPAUTA- São dez anos desde a criação da Semana de Ciência e Tecnologia, que avanços podem ser destacados em uma década de mobilização em torno das atividades?

Ildeu de Castro Moreira – Nosso principal avanço é quantitativo. A gente atingiu no ano de 2004 um número pequeno, aproximadamente 1,8 mil atividades, e no ano passado 33 mil. No primeiro ano, foram uma centena de municípios, e agora, estamos em 800 municípios. Esse crescimento quantitativo significa que as atividades da Semana se espalharam e mostra um envolvimento muito grande. Outro ponto é a diversidade de ações com a participação de professores, estudantes, pesquisadores, etc. Outra grande vantagem é que é uma atividade voluntária. O Amazonas, por exemplo, é um Estado que consegue fazer muitas atividades legais, eu gosto muito daqui e venho desde a primeira Semana. O fato de chegar a alguns municípios é uma façanha brilhante, por conta da logística devido às distâncias.

CIÊNCIAemPAUTA- O senhor abordou em sua palestra o tema “Criação de espaços de Ciência no Brasil”, que aspectos precisam ser melhorados para que as pessoas fiquem mais próximas de conteúdos científicos e tecnológicos? Quais os principais gargalos?

IM – É preciso investir mais em espaços de educação não formal. Isso significa criar mais museus de ciência, pois o Brasil tem poucos. Temos cerca de 200 espaços de ciência, que são museus de ciência, planetários e jardins botânicos. Para se ter uma ideia, o Brasil tem 30 planetários, a Índia tem 300; os EUA têm mais de 4 mil. Temos um déficit histórico e monumental de espaços de ciência. Aqui, no Amazonas, nós temos iniciativas como o Musa, o Inpa que tem o Bosque da Ciência, mas ainda é pouco, diante da necessidade e da gana de conhecimento que os jovens têm.

Outro desafio grande é presença maior da ciência na mídia brasileira, seja nos rádios, jornais, revistas, televisão. Os brasileiros dizem que assistem a programas de televisão com conteúdo de ciência, mas isso atinge apenas uma faixa entre 15 e 20% dos brasileiros. Os canais abertos em geral têm pouco conteúdo de ciência. 

Precisamos mostrar que a ciência está mais próxima das pessoas, criar eventos, como a Semana da Ciência, cuja ideia sempre foi fazer com que a universidade se aproxime da população em geral. 

CIÊNCIAemPAUTA- Vamos falar de ciência na web. Vivemos na era da sociedade em rede e o controle de como a informação científica circula provavelmente sempre será limitado. O conteúdo científico exige um rigor nessas informações, que a fluidez da rede não espera. Como fazer divulgação científica na internet de qualidade em um meio tão livre e pulverizado como o da web?

IM – A Web, as redes sociais são espaços fantásticos para se fazer divulgação científica. Ambos têm potencial gigantesco que não aproveitamos. No Brasil, há alguns museus virtualizados, como por exemplo, o de Artes e Ofícios de Belo Horizonte. Aqui do Amazonas, posso acessar e visitar o museu. Enfim , você tem uma infinidade de vídeos no Youtube sobre experimentos de física, química, etc. Então, isso facilita muito você usar aparatos o que até então era muito difícil.

Nós estamos criando uma rede, tentando criar um Instituto Nacional no Brasil para a popularização da ciência, o que estamos chamando de Comunicação Pública da Ciência, envolvendo países como a China, EUA, Itália, França, Inglaterra, Argentina e Colômbia. Acredito que o que temos que fazer é experimentar. 

CIÊNCIAemPAUTA- A ciência vive esse momento de reconfiguração. O cientista passa a ter um papel essencial na divulgação das pesquisas que, afinal, envolvem recursos públicos. O senhor acha que os cientistas estão dispostos e prontos para esse desafio?

IM Muito difícil falarmos de cientistas em geral, é uma massa gigantesca. Já tem hoje entre os cientistas brasileiros os meios  de fomento, fundações de amparo. As universidades já estão valorizando esse tipo de atividade. Ainda tem muita discriminação com quem faz trabalho de divulgação científica – como se fosse trabalho de segunda categoria.

Se você analisar quase todos os grandes cientistas, praticamente todos se preocuparam em também transmitir as ideias para o grande público. E, agora, a internet vai ser um dos pontos centrais para realizar a divulgação. É um desafio grande para o Brasil e para o mundo inteiro. Com os jornalistas sendo críticos dos cientistas, isso pode melhorar ainda.

CIÊNCIAemPAUTA, por Alessandra Karla Leite