A ciência vai ao público
Na região central de Limeira, interior paulista, uma movimentação atípica de ônibus escolares nos arredores do parque da cidade chamou a atenção dos moradores em outubro. Todos os dias, os ônibus transportavam cerca de 3 mil alunos de escolas públicas da região até o Centro de Ciências, instalado dentro do parque.
O local sediou o Festival de Ciências, Inclusão Tecnológica e Turismo, que ao longo de três semanas marcou a primeira participação do município na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, cuja 10ª edição foi realizada entre os dias 21 e 27 de outubro em mais de 700 cidades do País.
Desde a primeira edição da Semana, em 2004, um número crescente de municípios se mobiliza em torno do evento que se tornou um abrangente projeto de difusão científica. Na primeira edição, 252 cidades foram responsáveis pela realização de 1.842 atividades. Em 2013, os números subiram para 700 cidades e aproximadamente 30 mil atividades.
“Em nenhum País do mundo há um evento do gênero com essa abrangência territorial. Entre os países grandes, a Índia e a China não têm uma semana nacional de ciência e tecnologia e nos Estados Unidos e Canadá só existem semanas locais ou regionais, sem uma articulação nacional como acontece aqui”, explica o físico e criador da Semana, Ildeu de Castro Moreira, que este ano foi o vencedor da 33ª edição do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, em boa medida em reconhecimento por seu trabalho à frente da Semana e das atividades de popularização da ciência no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Na experiência brasileira, os municípios têm autonomia para organizar seus eventos, que incluem feiras de ciência, concursos, oficinas, tendas de ciência em lugares públicos, palestras e exibição de vídeos científicos, entre outros. “Há cidades em que a Semana produziu resultados duradouros.
Belford Roxo, no Rio de Janeiro, com a boa resposta da população às atividades da Semana, criou uma secretaria municipal de ciência e tecnologia para, entre outras finalidades, organizar o evento todos os anos”, diz Douglas Falcão Silva, coordenador-geral da Semana no MCTI, cargo que foi ocupado por Ildeu até o ano passado.
Criada para mobilizar a população, especialmente as crianças e os jovens, em torno de temas científicos, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia teve como tema em 2013 “Ciência, saúde e esporte”, com uma programação direcionada ao aprendizado sobre o funcionamento do corpo humano nos esportes. O tema foi escolhido para discutir os eventos esportivos mundiais que serão realizados no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Em várias cidades foram realizadas atividades interativas envolvendo modalidades esportivas, além de palestras com esportistas.
MOBILIZAÇÃO
Em Limeira, além das atrações permanentes do Festival de Ciências, como o planetário, a minifazenda rural e as exposições Biomas do Brasil e Olho do céu, houve atividades com atletas da cidade campeões e medalhistas em Jogos Paralímpicos, que falaram sobre o impacto do esporte na superação da deficiência física.
No estado de São Paulo, cerca de 37 cidades abrigaram atividades da Semana. Na capital, a principal atividade aconteceu sob coordenação da Universidade de São Paulo (USP). “O evento da universidade acontece há dois anos no Parque CienTec, que nesta edição recebeu cerca de 2 mil visitantes por dia e mobilizou mais de 300 voluntários”, afirma Roseli de Deus Lopes, uma das coordenadoras da Semana Nacional no estado.
“Nosso objetivo foi mostrar aos jovens que o conhecimento pode ser conquistado por meio de exemplos da vida cotidiana e que a curiosidade pode muitas vezes ser estimulada de maneira simples”, diz Fábio Ramos Dias de Andrade, diretor do Parque CienTec, ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.
Entre os destaques da programação estavam um giroscópio gigante, uma trilha na floresta, escalada em árvores e a travessia, de uma plataforma a outra, utilizando uma bicicleta instalada sobre uma corda. “Nunca havia feito isso antes. Enquanto estava no alto, pude respirar ar puro, ver mais de perto as folhas da árvore e ainda ouvir explicações sobre forças da física e gravidade”, conta Patrícia Rocha Cabral, 14 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Simon Bolívar, em Diadema, depois de escalar uma árvore com o auxílio de alunos de graduação do Instituto de Biociências da USP, que trabalharam como voluntários.
O estande do Instituto Biológico se destacava no pavilhão que reuniu exposições de unidades da USP e de outras instituições. As atrações – insetos vivos – à primeira vista causavam repulsa no público. O medo logo dava lugar à curiosidade e todos queriam tocar nos bichos. Os mais visitados pelas crianças eram um bicho-pau fêmea, um inseto de 22 centímetros muito parecido com um graveto; a maior barata do mundo, a de Madagascar, cujo tamanho varia de 5 a 9 centímetros; e a maior barata do Brasil, conhecida como barata-fantasma.
Fonte: Fapesp