A herança genética dos neandertais nos homens modernos

Esqueletos de um neandertal e um homem moderno em exibição no Museu de História Natural de Nova York: subespécies de hominídeos se encontraram na Europa e Ásia e cruzaram, o que faz com que populações atuais tenham traços genéticos dos neandertais. Foto: AP/Frank Franklin II

Quando os humanos modernos (Homo sapiens) saíram da África, entre 125 mil e 60 mil anos atrás, eles já encontraram a Europa e a Ásia ocupadas por outra espécie de hominídeos. Eram os neandertais (Homo neanderthalensis), com os quais conviveram durante milênios até que eles foram extintos, há cerca de 30 mil anos. Neste longo período de convivência, no entanto, as duas espécies se cruzaram e estudos recentes mostraram que europeus, asiáticos, oceânicos e americanos atuais têm por volta de 2% de DNA neandertal, praticamente ausente nas populações da África subsaariana, que nunca encontraram com eles.

Agora, duas novas pesquisas revelam pela primeira vez a variedade desta herança genética neandertal, assim como a forma como ela afeta a saúde, a aparência e a vida dos humanos de hoje. A primeira, publicada online, na quarta-feira (29), pela revista Science, indica que embora cada indivíduo no planeta sem herança africana tenha cerca de 2% de DNA neandertal, em conjunto a Humanidade guarda pelo menos 20% do genoma completo destes hominídeos antigos.

” Os seus 2% de DNA neandertal podem ser totalmente diferentes dos meus 2% e estar em lugares diferentes do genoma” , explica Joshua Akey, geneticista da Universidade de Washington em Seattle e um dos autores do estudo na Science, em que procurou por mutações incomuns nos genes de 379 europeus e 286 asiáticos que acabaram se mostrando estarem em locais com DNA de origem neandertal.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

Já a segunda pesquisa foi ainda mais abrangente e revelou que os genes dos neandertais estão ligados a diversas doenças, principalmente autoimunes, como lúpus, cirrose biliar e doença de Crohn, além de diabetes tipo 2 e comportamentos como a capacidade de parar de fumar. Por outro lado, ela também mostrou que o DNA neandertal contribuiu com adaptações evolutivas vantajosas para o Homo sapiens, como as relacionadas à produção de queratina, proteína que fortalece pele, cabelos e unhas, o que teria ajudado os humanos modernos a sobreviverem nos climas mais frios de fora da África.

“É tentador imaginar que os neandertais já estavam adaptados ao ambiente fora da África e forneceram este benefício genético para os humanos”, diz David Reich, professor de genética da Escola de Medicina de Harvard e um dos autores do estudo, publicado na edição desta semana da revista Nature.

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Fonte: O Globo