A idade certa da alfabetização na visão de especialistas
Qual a idade ideal para uma criança já saber ler e escrever? O Ministério da Educação (Mec) lançou no final do ano passado, e implantou em 2013, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), que estabelece que todos devem estar alfabetizados ao fim do 3º ano do ensino fundamental, aos 8 anos de idade. No País, 5.182 municípios dos 26 estados, mais o Distrito Federal concluíram o processo de adesão ao pacto, o que representa 93,2% dos municípios. Todos receberam material didático e cursos de formação docente.
Para a professora titular emérita do Departamento de Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Miriam Lemle, afirma que aos oito anos uma criança deve saber ler é correto. “É uma expectativa normal que uma criança normal em uma escola normal esteja lendo com fluência, ao fim do terceiro ano”.
O que causa estranheza para a professora é o formato corretivo da medida. “A noção de pacto traz para o contexto uma ideia de corretivo, como se algum dos participantes no empreendimento estivesse descumprindo o papel que se espera dele e estivesse havendo alguma reprimenda implícita. O estranho é a necessidade de um pacto corretivo! Quem vem errando, anos a fio, Brasil afora? Fico curiosa de saber quem está puxando a orelha de quem e por que razão”, indaga.
O coordenador do Centro de Memória da PUC, do Rio Grande do Sul, o neurocientista Iván Izquierdo, afirma que do ponto de vista da neurociência, provavelmente com 5 ou 6 anos de idade, a criança já tem condições de dominar e usar a linguagem. “É nessa idade que se começa a alfabetização na maioria dos países ocidentais, porém isso varia de criança para criança”, pondera. Ele espera que o pacto respeite os diferentes ritmos de desenvolvimento das crianças.
Para Izquierdo, o problema está se a criança não for alfabetizada até os 8 anos. Com isso, ela poderá perder 2 ou 3 anos de sua vida sem entender plenamente o mundo em sua volta. “Nesse mundo há muitas coisas escritas importantes, entre elas ‘proibido atravessar os trilhos’, por exemplo. Daí, aos 8 anos é mais do que conveniente estar alfabetizado”, concluiu.
INVESTIMENTO
Em dois anos, o pacto receberá investimento de R$ 3,3 bilhões. Como forma de incentivar a participação dos professores no Pnaic, o MEC oferece bolsas de R$ 200 mensais para o alfabetizador; R$ 765 para o orientador de estudo; R$ 765 para o coordenador das ações do pacto nos estados, Distrito Federal e municípios; R$ 1.100 para o formador da instituição de ensino superior; R$ 1.200 para o supervisor da instituição de ensino superior; R$ 1.400 para o coordenador adjunto da instituição de ensino superior; e R$ 2.000 para o coordenador-geral da instituição de ensino superior.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que entre 2000 e 2010, a taxa de analfabetismo no Brasil, até os 8 anos de idade, caiu 28,2%, com variações entre os estados da federação, e alcançou, na média nacional, uma taxa de alfabetização de 84,8% das crianças. Entre as regiões, existe uma diferença na taxa de analfabetismo, a maior está no Nordeste, 25,4%, seguido do Norte, 27,3%, Centro-Oeste, 9%, Sudeste, 7,8% e Sul, 5,6%. O estado com a maior taxa de analfabetismo é Alagoas, 35%, e o com a menor é o Paraná, com 4,9%.
Fonte: Jornal da Ciência