Amazonas precisa avançar em inovação, aponta pesquisador

 

O Amazonas ainda precisa desenvolver o empreendedorismo de base tecnológica e incrementar a formação profissional qualificada em massa. Esses fatores consistem em dois dos desafios que o Estado do Amazonas precisa reverter para dar um salto qualitativo na inovação. Em entrevista exclusiva à Agência Fapeam, o coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação (Nepi) da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação (Fucapi), Guajarino Araújo, falou sobre os principais desafios e apontou saídas para impulsionar a inovação no Amazonas. Destacou o Sistema Manaus de Inovação, que conta com o apoio de várias instituições, dentre elas a  FAPEAM.  

                  

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Agência Fapeam – Do ponto de vista da inovação, quais desafios o Amazonas tem para incrementá-la?

 

Guajarino Araújo – Na verdade, a primeira  observação é onde nós estamos. Nós evoluímos muito nos últimos anos e essa evolução se deu graças ao mecanismo de financiamento pelo qual o Governo Federal incentiva a ciência, tecnologia e inovação, mas também pela criação de algumas instituições locais que são protagonistas determinantes para essa mudança.  Há vários desafios. Um deles é que a gente precisa, de uma certa forma, começar um trabalho para que haja uma amplitude maior das inovações radicais no nosso Estado, tecnologicamente centradas, com bases tecnológicas. São elas que mudam a trajetória de uma economia. Para isso, é preciso empreendedorismo de base tecnológica e formação profissional qualificada em massa, ou seja, cultura de empreendedorismo e profissionais qualificados em áreas tecnológicas. Esse é um aspecto.

 

O outro é do qual padece todo sistema nacional. É trazer para dentro do sistema uma forma mais protagonista do ator-empresa. A empresa ainda está um pouco afastada desse processo. A empresa, ou tem receio da inovação, ou não entende muito esse processo. Ou ainda acredita que não tem condição de praticar inovação. Isso faz parte de um aculturamento.

 

Um terceiro item importante é quanto à continuidade das instituições estratégicas. Nós estamos num momento de mudança política, um momento de construção de um novo planejamento nacional. Por isso, é importante que a gente se organize internamente para que as instituições existentes tenham assegurada a sua continuidade, os seus recursos, a sua autonomia de desempenho. Mas é preciso que essas instituições e as outras se aproximem mais. Nós precisamos criar fóruns para que a discussão sobre inovação se dê de forma mais corrente, que se incorpore ao dia a dia.

 

Agência Fapeam – Então de forma sintética, o senhor pode apontar algumas soluções para desenvolver a inovação no Amazonas?

 

Guajarino – Uma das sugestões é incentivar a cultura de base tecnológica. Isso é essencial. Os nossos programas de apoio à inovação são considerados tímidos. Cito o Pappe Subvenção, como um exemplo bem sucedido e que precisa ser multiplicado. A gente precisa de inovação em massa. A aproximação do setor produtivo também é um desses desafios e para isso há vários mecanismos, especialmente o setor produtivo de pequeno e médio porte, que precisa ainda ser esclarecido sobre a inovação, pois ainda há um receio muito grande.

 

Agência Fapeam – E o que o senhor diz sobre a criação de parques tecnológicos no Amazonas?

 

Guajarino – Essa já é uma medida de longo prazo. Para se ter um parque tecnológico é preciso ter massa crítica numa determinada área do conhecimento, e o Amazonas precisa avançar muito. É preciso de instituições que, dentro do parque, por exemplo, possam realizar diversos tipos de serviços que você normalmente encontra num parque. Só que, como são projetos complexos e normalmente demandam muito tempo, para tornar o Amazonas um Estado ainda mais protagonista, eles precisam iniciar.

 

Agência Fapeam – Nos últimos anos, houve, reconhecidamente, um avanço nos investimentos voltados para inovação. Faça um breve prospecto do que o Amazonas cresceu nesse sentido.

 

Guajarino – Essa cultura está sendo estabelecida. Quando os investimentos chegam, você tem que recebê-los e ter a inteligência para estabelecer prioridades, para dar destinação adequada a eles e acompanhar o uso desses investimentos. Então, todo esse processo incorpora novos aprendizados que são  o aparelho burocrático e o aparato público. Passa a existir uma maior experiência institucional de fazer as coisas acontecerem no gerenciamento estratégico desse processo.

 

Por outro lado, os que usufruem dos recursos começam a ganhar proficiência na submissão de projetos, na articulação dentro de um projeto com outros parceiros, com fornecedores de serviços. Tudo isso é o mais importante na inovação. O mais importante na inovação não é pontualmente um resultado que é alcançado, mas o aprendizado a  que as instituições chegam, isso serve para replicar o processo em outras frentes. Ele é o foco de quem estuda inovação e quer fazer uma região se desenvolver.

 

Agência Fapeam – O senhor abordou, durante palestra na IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília/DF, sobre a implantação do Sistema Local de Inovação (SLI). Por favor, comente sobre esse sistema. Ele é palpável no nosso Estado?

 

Guajarino – Do ponto de vista do conceito que muitos países usam para orientar suas prioridades, ações estratégicas, para fortalecer a inovação, que é fundamental para a competitividade econômica, sim. As empresas que inovam são mais lucrativas e sobrevivem melhor às crises. Uma economia inovadora tem mais chance de sobreviver no mercado cada vez mais globalizado e cada vez mais competitivo.

Por isso, os gestores buscam a inovação. O Sistema Local de Inovação é um óculos pelo qual a gente pode enxergar como as coisas acontecem. Esse é um dos conceitos. No sistema local, há um conjunto de atores de diferentes origens: instituições públicas, privadas, terceiro setor, academia e setor produtivo, que é essencial.

 

O que o sistema faz é olhar para a participação desses diversos atores, e mais que isso, a conexão existente entre eles, pois é completamente diferente ter esses atores e eles não conversarem entre si, e no outro ambiente, você ter esse mesmo conjunto de atores e estarem fortemente engajados em projetos coletivos. O nível de aprendizado nesse segundo exemplo é muito mais forte, e como a inovação é um processo, quanto mais interação e aprendizado houver, mais chances de inovar a localidade vai ter.

 

Nesse sentido, o Nepi/Fucapi está se aproximando de uma instituição que desenvolveu uma tecnologia, na Alemanha, e que já aplicou essa ferramenta em vários ambientes. A Fucapi está articulando esse projeto para avaliar o que seria o Sistema Local de Inovação, que chamamos de Sistema Manaus de Inovação. Fizemos questão de incluir várias instituições no processo, com apoio financeiro e institucional. A participação coletiva é essencial para criar essa cultura, para criar o envolvimento das instituições, inclusive quando estão sendo feitos os estudos.

 

Agência Fapeam – Esse sistema já está sendo implementado em Manaus?

 

Guajarino – Tivemos um longo período de visitas aos dirigentes das instituições, e depois de acordados os procedimentos, estaremos, no dia 8 de junho, reunindo com a Suframa, a FAPEAM, a Fucapi, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas (Sect-AM), o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) e o Sebrae, para assinar esse convênio para o "start" do projeto do Sistema Manaus de Inovação.

 

Todas as instituições estarão se comprometendo em recursos e em esforços para que o estudo seja feito, inclusive num prazo exíguo, pois a intenção é de que antes do final do ano, antes de outubro, seja concluído, para que esse possa interferir nas agendas das discussões políticas. Nesse processo, a Fucapi, por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação (Nepi) é a executora junto à instituição de pesquisa tecnológica alemã VDI/VDE, que vai aplicar a metodologia na realidade local.

 

Fonte: Agência Fapeam