Animais podem ter o comportamento comprometidos quando expostos a barulhos

Muitas vezes o ser humano encontra nas florestas e nos parques a calmaria necessária para fugir da estressante rotina da cidade. O canto dos pássaros, o farfalhar das folhas ou a melodia da água corrente são sons de alento. O problema é que, mesmo nesses refúgios, o homem teima em carregar consigo o mesmo barulho de motores e máquinas encontrado na cidade. O resultado é uma interferência por vezes brutal na dinâmica de todo o ecossistema natural.

Uma nova ferramenta desenvolvida pela Wildlife Conservation Society (WCS) começou a ser utilizada por cientistas e gestores de parques para modelar como os diferentes ruídos viajam pelas paisagens naturais e afetam as espécies locais.

Segundo Sarah Reed, cientista da WCS e uma das responsáveis pelo projeto, o barulho causado pelo homem pode colocar em desvantagem algumas espécies menos tolerantes ao ruído, podendo ocasionar, inclusive, uma perda de biodiversidade.

“Prever os efeitos do som nos pássaros ou mamíferos é um fator importante para a gestão de territórios. Ele tem que ser levado em consideração pelos administradores na hora de escolher onde construir trilhas recreativas ou novas estradas de acesso”, explica Reed.

A pesquisadora complementa que a maioria dos softwares disponíveis no mercado para modelagem de ruído são caros e projetados principalmente para uso em áreas urbanas. Esse é o caso, por exemplo, dos programas que mensuram os efeitos das buzinas das grandes cidades nos moradores.

“Nós nos propusemos a desenvolver uma ferramenta que fosse gratuita e que pudesse incorporar fatores que afetam a propagação do ruído em ecossistemas naturais”, relata Reed. A ferramenta, chamada SPreAD-GIS, utiliza dados espaciais para prever como o som gerado por uma fonte se espalha para a paisagem ao redor e como ele próprio é afetado e projetado pela vegetação, pelo terreno e pelas condições do clima.

Ao determinar como o som se propaga, os potenciais impactos na vida selvagem podem ser então previstos. Tais impactos podem incluir, por exemplo, a redução da qualidade do hábitat, alterando a distribuição geográfica das espécies, interrompendo a comunicação animal e causando estresse.

Fonte: Correio Braziliense, por Marcela Ulhoa