Artigo: Jornalismo de resultados

Toca o celular. Repórter de um jornal local se identifica. Gostaria de conversar comigo sobre algumas questões relacionadas à Ciência, Tecnologia & Inovação no estado. Coloco-me, de pronto, à disposição para responder o que estiver ao meu alcance. Afinal, falo para os meus discretos botões, não é tão comum o interesse da mídia por esse tipo de assunto. Os tempos são outros. Eu é que talvez esteja, como se dizia antigamente, inteiramente por fora. Confesso a mim mesmo a satisfação com a iniciativa e preparo-me para uma longa e proveitosa entrevista. Conversa vai, conversa vem, tergirversação pra cá, tergiversação pra lá, percebo que meu interlocutor não quer bem falar sobre os avanços e as novidades na área. De qualquer modo, fique à vontade para perguntar, afinal, o repórter é você. Com a voz entrecortada por alguns momentos de silêncio, ele chega ao assunto premeditado. Ouvira de alguém, não sabia precisar onde nem quando, sobre a alta inadimplência de estudantes que recebiam bolsa para cursar mestrado ou doutorado. Animei-me com a pauta, ou melhor, com o avesso da pauta. Disse-lhe que esses fatos eram tão pontuais, diante do universo de concessões, que eu os conhecia de memória. Passei a relatar três ou quatro situações. O meu entusiasmo era proporcionalmente inverso ao desânimo e ao desinteresse do repórter. Em vão tentei convencê-lo de que estava diante de um fato jornalisticamente surpreendente. A pauta morreu ali. A ele só interessava a tragédia da alta inadimplência. Despedi-me frustrado. Devo dizer que me considero, já disse isso, um atento observador do comportamento da mídia. Atribuo tal interesse à afinidade entre as áreas do conhecimento às quais acabei me dedicando – linguagem, produção de textos, discurso – e a língua, matéria-prima de que se vale o jornalista para exercer o que considero uma profissão bastante desafiadora. Ao lado disso, tenho gratas lembranças das vezes em que, na universidade, por escolha minha, convivi em sala de aula com estudantes dos períodos iniciais de Comunicação Social, muitas e muitos dos quais hoje espalhados pelas redações da vida. Se alguma contribuição ficou, tenho bons motivos para me orgulhar. Mas, francamente, esse jornalismo de resultados eu ainda não havia conhecido.

Por Odenildo Sena (odenildosena@uol.com.br), publicado em: 11 de janeiro de 2011 –  no Jornal Diário do Amazonas.