Avanços nas pesquisas sobre Sigatoka negra da bananeira são discutidos por cientistas em Manaus

22/08/2012 – Os avanços nos estudos e controle da Sigatoka negra da bananeira foram tema de mesa-redonda na programação do 45° Congresso Brasileiro de Fitopatologia, que acontece em Manaus, no Studio 5 Centro de Convenções. São várias as frentes de pesquisa para encontrar soluções diante dessa que é a doença de maior importância mundial que afeta economicamente a bananicultura.

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Foram apresentados estudos para manejo integrado, por meio de controle cultural e controle biológico da doença, realizados na Costa Rica; também como estudos sobre a interação entre a planta e o fungo, em escala celular; e ainda estudos sobre a diversidade e a estrutura genética da população do fungo Mycosphaerella fijiensis, causador da doença.

O melhoramento genético buscando desenvolver variedades de banana resistentes ao fungo é defendido por pesquisadores como a forma mais econômica e ambientalmente correta para controle da doença. Nessa linha, está se buscando conhecer a diversidade genética do fungo da Sigatoka negra, por meio de ferramentas moleculares, para orientar os programas de controle e melhoramento visando resistência a doença.

O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Gilvan Ferreira, coordenou pesquisa que analisou a diversidade e a estrutura genética da população de M. fijiensis no Brasil por meio de quatro diferentes marcadores moleculares (SSR, ISSR, VNTR e ERIC-PCR). Gilvan Ferreira  informou que foram avaliados 188 isolados do fungo oriundos dos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia e São Paulo. Um dos resultados do estudo é a identificação de que esse fungo atualmente está estruturado  em três subpopulações com até 73% de diversidade intra-populacional. “Este é o primeiro estudo da diversidade e estrutura da população do agente causal da sigatoka-negra no Brasil e os resultados obtidos serão fundamentais para orientar os programas de controle e melhoramento visando à resistência a doença”, informou o pesquisador. Esse projeto teve financiamento do CNPq e Fundação de Amparo a Pesquisas do Estado do Amazonas (Fapeam).

O fungo da Sigatoka negra foi identificado no Brasil em 1998, com a entrada da doença no país pelo estado do Amazonas, a partir do município de Tabatinga (fronteira do Brasil com Colômbia e Peru) e daí se espalhou por vários estados, chegando até regiões produtoras, no sul e sudeste do Brasil, causando prejuízos econômicos. Atualmente, “a produção comercial de bananas somente é possível se levar em consideração um sistema de manejo integrado da Sigatoka-negra”, segundo o professor da Unesp e engenheiro agrônomo da Superintendência Federal da Agricultura no Estado de São Paulo (SFA/SP), Wilson Moraes, que apresentou a palestra “Perspectivas de controle da sigatoka-negra da bananeira nas regiões Sul e Sudeste do Brasil”. Moraes citou que no Vale do Ribeira, em São Paulo, com o manejo integrado e monitoramento se conseguiu reduzir a quantidade de aplicação de fungicidas. Nas áreas onde a doença já ocorre, recomendou a adoção de práticas culturais; a erradicação dos bananais abandonados; uso de fungicidas sistêmicos em variedades suscetíveis; e a adoção de  variedades geneticamente resistentes.

A doença é preocupante porque é um problema que ameaça um alimento importante, pois a banana é a quarta cultura alimentar mais consumida no mundo, cultivada em mais de 100 países tropicais e subtropicais, como citou a pesquisadora Maria de Jesus Cavalcante, da Embrapa Acre, que apresentou um estudo sobre a interação entre o fungo da Sigatoka negra e Musa acuminata, uma espécie silvestre de banana, pesquisa na qual investigou os mecanismos de defesa da planta em escala celular, buscando obter informações que possam esclarecer melhor o papel de alguns mecanismos de defesa que a planta desenvolve ao ataque do fungo.

O pesquisador Mauricio Guzmán, do Departamento de Fitopatologia da Corbana, uma instituição pública não estatal de desenvolvimento da indústria da banana na Costa Rica, defendeu a adoção do manejo integrado, com controle cultural e controle biológico, para enfrentar a doença. Segundo o pesquisador, diante da situação atual de resistência a fungicidas, de preocupações ambientais e de custos no combate à Sigatoka negra, deveria se incentivar mais essas pesquisas para implementar de forma mais eficiente o manejo integrado. Segundo ele, há pouco investimento em financiar pesquisas nessa linha, pois apenas no México, Costa Rica e Colômbia, grupos de cientistas estão trabalhando com a alternativa do controle biológico para a Sigatoka negra e que há perspectivas interessantes com microorganismos e bacterias antagonistas ao fungo M. fijiensis.

Durante a mesa-redonda, também foi lembrado que a Embrapa tem opções de cultivares de banana resistentes à Sigatoka negra, além de técnicas para redução na aplicação de fungicidas, com concentrações menores na axila foliar da planta para bananas em que não há ainda materiais resistentes.

Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental, por Síglia Regina