Biblioteca Braille do Amazonas dispõe mais de 4 mil títulos

CIÊNCIAemPAUTA, por Laize Minelli

Clássicos da literatura brasileira como os de José de Alencar e Erico Veríssimo, passando pelas populares sagas de Harry Potter, Crepúsculo até o polêmico “50 tons de cinza”, da autora inglesa Erika Leonard James, podem ser encontrados no acervo de mais de quatro mil títulos da Biblioteca Braille do Amazonas (BBAM).

Localizada no bloco C do Centro de Convenções do Amazonas (Sambódromo), a BBAM disponibiliza aos interessados livros em formato MP3 e braille, filmes com audiodescritos, além de aulas de violão, teclado e informática. Na área infantil, painéis de textura e cores. Há toda uma estrutura para atender as pessoas com deficiência visual ou auditiva.

Um dos destaques são dois estúdios nos quais voluntários gravam e produzem livros. De acordo com o gerente da biblioteca, Gilson

Oliveira, as portas estão abertas para os interessados que em audiodescrever. “Basta telefonar, marcar o dia e vir fazer o teste. Nós temos cerca de 120 pessoas que trabalham conosco, entre professores, acadêmicos e usuários”afirmou.

Atualmente, a biblioteca conta com acervo de aproximadamente quatro mil livros falados, mil livros em braille, 38 filmes com audiodescrição e 12 canetas pentops – dispositivo com um sensor posicionado em sua ponta e um computador interno, capaz de decodificar o material impresso e reproduzir sons previamente gravados, projeto realizado em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Além disso, estão disponíveis duas impressoras em braile, sendo uma delas interpontada – capaz de imprimir dos dois lados do papel.

Rodrigo Valério, 25, estudante do curso de Administração do Centro Universitário do Norte (Uninorte), é frequentador assíduo da BBAM há 12 anos. Ele acredita que o acervo disponível contribuiu para seu crescimento. “A biblioteca é muito útil pra mim por tudo o que ela oferece, ainda mais agora que estou na faculdade e uso muito os livros digitalizados”, disse.

A biblioteca possui dois estúdios nos quais voluntários gravam e produzem livros. Foto: Laize Minelli/CIÊNCIAemPAUTA

A biblioteca possui dois estúdios nos quais voluntários gravam e produzem livros. Foto: Laize Minelli/CIÊNCIAemPAUTA

 

O coordenador da biblioteca, Gilson Oliveira conta que, no inicio, o lugar era apenas um setor. “No começo estávamos localizados no Centro. Quando passamos para o Centro de Convenções tivemos mais espaço e ganhamos os estúdios, tanto que antes não produzíamos, só emprestávamos livros” disse.

A TRAJETÓRIA

Oliveira está à frente da biblioteca há 13 anos. Cego desde os 17 anos, ele conta que foi uma jornada até chegar à direção da BBAM. “No ano de 1980 fiquei cego, fiz uma reabilitação na Fundação Dorina Nowill, em São Paulo e, em 1983 entrei no supletivo Santa Inês. Na década de 90 me formei, passei 10 anos desempregado e no inicio de 2000 surgiu uma vaga para deficiente na Secretaria de Cultura do Amazonas (SEC). Comecei a trabalhar no setor braile, o qual assumi posteriormente” contou.

Quando questionado sobre como é coordenar tudo sem enxergar, Gilson é enfático: “Continua sendo difícil. Todo dia tenho que matar um leão”.

EXPERIÊNCIA

Karen Cordeiro, 20, estagiária da Biblioteca Braille do Amazonas já estagiou em outros lugares e conta que a experiência na BBAM é diferente, pois acrescenta muito na sua formação. “Aqui nós nos dedicamos totalmente ao deficiente, fazemos de tudo para que ele se torne o mais independente possível. Muitos chegam aqui pedindo para passarmos apostilas para áudio ou para colocarmos as gravações no celular deles”.

Experiência válida também para a vida pessoal. “Quando não temos alguém assim na nossa família não entendemos como é. Agora eu os vejo e admiro”, revelou a estudante.

ALÉM DAS FRONTEIRAS

O trabalho dirigido por Gilson não se restringe somente a capital amazonense. Desde 2010, cerca de 10 municípios recebem livros e filmes enviados pela biblioteca, dentre eles estão Coari, Itacoatiara e Parintins. Produção que também é enviada para os estados de Tocantins, Rondônia e Acre, Ceará e o Espírito Santo.

SERVIÇO

O quê: Biblioteca Braille do Amazonas (BBAM)

Onde: Bloco C do Centro de Convenções (Sambódromo). Av. Pedro Teixeira, 2.565 – Flores.

Horário: O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h (aberta no horário do almoço).

 

CIÊNCIAemPAUTA, por Laize Minelli