Brasil enfrenta o desafio da inovação
A produção científica brasileira explodiu nos últimos anos, mas as descobertas nos laboratórios ainda raramente se traduzem em novas tecnologias e patentes, gerando ganhos econômicos e de competitividade para o País.
Agora, porém, o Governo decidiu apostar alto em uma iniciativa que pretende diminuir a distância entre ciência básica e aplicações práticas, aproximando cientistas e indústrias ao mesmo tempo em que estimula os investimentos da iniciativa privada em pesquisa e desenvolvimento.
Com orçamento previsto em R$ 1,5 bilhão até 2015, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), criada no início do ano, teve seu contrato de gestão finalmente assinado este mês, habilitando-se a financiar projetos que coloquem as pesquisas a serviço das linhas de montagem.
“O Brasil tem uma boa ciência, mas ter uma boa produção acadêmica não implica necessariamente em criar novas tecnologias, e este é um dos maiores desafios que o país enfrenta hoje. Mas não é um processo trivial traduzir a ciência em tecnologia, transformar o avanço do conhecimento em produtos e processos que levem a benefícios econômicos e sociais e deem mais competitividade para o país. Para isso, estamos criando instrumentos e programas como a Embrapii”, avalia o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Alvaro Prata.
Prata conta que a Embrapii foi inspirada no sucesso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cujas experiências levaram o Brasil de um País importador de alimentos há 50 anos a um dos maiores produtores mundiais no setor hoje. As duas, no entanto, terão estruturas bem diferentes. Enquanto a Embrapa é uma empresa pública, com laboratórios, pesquisadores e funcionários próprios, a Embrapii foi constituída como uma organização social com o objetivo de juntar as redes de laboratórios já existentes, como as dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e de universidades, às necessidades da iniciativa privada.
A ideia é que os centros de pesquisa entrem nos projetos apenas com seu capital físico e humano, com a Embrapii e as empresas dividindo os riscos financeiros do investimento no desenvolvimento de novos produtos e processos, na proporção de um terço dos custos para cada participante da equação.
“Assim, esperamos unir as competências e capacidades das instituições de pesquisa brasileiras às demandas de empresas que muitas vezes não estão dispostas a investir em estruturas próprias de pesquisa e desenvolvimento. Com a Embrapii, os projetos de inovação vão ficar mais atrativos para as empresas, pois elas terão que bancar apenas um terço dos seus custos mas poderão usufruir da totalidade de seus resultados”, diz Prata.
Com o tempo, Prata espera que a iniciativa acabe por fomentar uma mudança de cultura nas empresas brasileiras de forma que elas vejam cada vez mais que vale a pena correr o risco de investir em pesquisa e desenvolvimento e, eventualmente, criem estruturas próprias para isso.
Ele, porém, também reconhece que a Embrapii já nasce com um defeito característico de programas do tipo no Brasil: a falta de garantia de que terá continuidade após se esgotarem os R$ 1,5 bilhão inicialmente previstos para os investimentos.
“A única garantia de continuidade da Embrapii é seu próprio sucesso”, admite.
Fonte: O Globo