Caso Dengue é discutido por jornalistas e cientistas no Amazonas

“Governo, cientistas e jornalistas precisam falar a mesma linguagem para que evitemos óbitos”, disse, Antonio Magela, médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT) durante o 2⁰ Encontro FAPEAM de Jornalismo e Ciência que teve como tema “Doenças endêmicas na Amazônia: o caso dengue” e ocorreu no auditório da Fiocruz. 

O evento foi realizado pela FAPEAM, em parceria com a Fiocruz Amazônia, e aconteceu na manhã desta segunda-feira (28/03). Além de Antonio Magela, palestraram o editor do Jornal Dez Minutos e do Portal D24AM, Márcio Noronha; o virologista da Fiocruz, Felipe Naveca; e a jornalista de O Globo, Célia Costa. A abertura do evento foi feita pelo Diretor da Fiocruz Amazônia, Roberto Rocha, e contou também com a presença do Secretário de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Odenildo Sena.

Em um primeiro momento, falou Felipe Naveca que explicou que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorrem, durante o ano, entre 50 a 100 milhões de casos de dengue, destes, mais de 25 mil vão a óbito. Ele disse ainda que praticamente em todas as áreas onde se registra a doença, existem os quatro tipos de manifestação e que se tem mais casos no hemisfério sul, onde o crescimento populacional aconteceu de forma desordenada.

Em seguida, Célia Costa, de O Globo, explicou que o jornalista é o elo decodificador entre o pesquisador e a população. Ela disse que acha um absurdo ainda se ver pessoas morrendo desta doença que é tratável. “Precisamos descobrir o que está acontecendo, por que não estamos conseguindo combater o mosquito e educar as comunidades”, ressalta Célia. Ela disse que é preciso fazer um trabalho conjunto com o Governo. “Alguém não está fazendo o que deve fazer. Lutamos contra o mosquito e perdemos cada vez mais”.

Logo depois, Antonio Magela, médico infectologista da FMT, disse que enfrentamos a pior epidemia de todos os tempos. Já foram registrados 20 mil casos em 2011, em contrapartida aos 4 mil da última epidemia registrada no Amazonas, em 2003. Ele disse que a doença já se espalhou para 28 municípios do estado, por meio dos porões dos barcos e das defensas, aqueles pneus que ficam ao lado da embarcação e que hoje devem ter um buraco embaixo para não acumular água. Ele disse ainda que há muita dificuldade em combater a dengue visto que a doença é transmitida pela fêmea do mosquito aedes aegypti que põe entre 150 e 200 ovos infectados, de 5 a 7 vezes durante os seus 35 a 40 dias de vida.

Ele explica que a divulgação no combate é fundamental, pois em um momento de epidemia como este o mosquito já está intra-domesticado e já foi encontrado dentro de guarda-roupas e máquinas de lavar. “Não podemos perder mais pacientes, por isso são necessários a divulgação para que haja a eliminação dos criadouros, o diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a mobilização social, aqui entra o papel do jornalista. Para um paciente com dengue, a orientação é muito mais importante que a medicação”.

Eles deram exemplos de vezes em que a mídia prestou um desserviço no caso dengue. Para Felipe, o que mais o incomoda é a divulgação de que a dengue tipo 4 é a mais grave de todas. “Isso não é verdade. Em comparação a todos os outros tipos, esta é a que menos causou epidemias e alguns pesquisadores acreditam que a infecção secundária é a mais grave”. Para Magela, este momento ocorreu quando foi noticiado o surgimento de uma nova forma de dengue na Amazônia, quando se tratava de uma síndrome característica da floresta, descoberta desde o final dos anos 50 e que possui os sintomas parecidos com os da dengue.

Antonio Magela finaliza dizendo: “a dengue é uma doença dinâmica e o jornalismo também o é. Dependemos de informações nos dias hoje, assim, vamos evitar o pânico, pois uma população neste estado não ouve orientações que são cruciais”.

Ao final das considerações, foi simulada uma entrevista coletiva, onde profissionais e estudantes de comunicação puderam fazer perguntas aos palestrantes.

Informações sobre a dengue:

Doença infecciosa febril aguda causada por vírus;

-Apresenta quatro tipo de vírus, por isso a doença só pode ser pega quatro vezes;

-É causada pela fêmea do mosquito aedes aegypti que vive e se reproduz em ambiente urbano;

-Já existem esforços nacionais e internacionais para a criação de uma vacina contra a dengue, inclusive da Fiocruz/RJ;

-Em Manaus, foi descoberta em 1996, no bairro Praça 14 de Janeiro, em virtude do acúmulo de oficinas e lojas de autopeças naquele local;

-A picada acontece durante o dia. À noite, o mosquito se recolhe;

-Há dificuldade de diagnóstico, visto que são necessários vários exames caros e demorados para o laudo final;

-Tratamento: hidratação e uso de medicamentos sintomáticos;

-Prevenção: não acumular água parada em caixas d’água, vidros em cima de muros, vasos de plantas, pneus; manter as lixeiras tampadas;

-Em caso de queda súbita da febre no quarto dia da doença, sangramento de qualquer espécie, dor abdominal, sensação de desmaio, queda da pressão arterial, o caso é grave e deve ser tratado de maneira especial.

ASCOM/SECTAM