Ciência na Amazônia: Mito ou Realidade?
A FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas) acaba de completar 10 anos de existência. Tive a honra de servir entre os anos de 2007 e 2013 como membro do conselho superior da instituição, cargo que abracei com dedicação e orgulho (e sem remuneração).
Gostaria de tomar alguns minutos do seu tempo para uma reflexão a respeito desta instituição, sua missão, conquistas e deficiências. O cenário inicial, no nem tão longínquo ano de 2002, era precário. Um estado de pouco mais de 3 milhões de habitantes tinha menos de 300 doutores (PhDs) dentre seus cidadãos. O nó da mão-de-obra se iniciava por aí, pois sem doutores, que chance temos de treinar bons mestres ou graduandos? As opções para formação de mão-de-obra de alto nível se restringiam a olhar e piscar para um governo federal que insistiam em namorar com USP e UNICAMP. Os poucos que conseguiam patrocínios de CAPES e CNPQ para longe daqui buscar sua formação nem sempre (ou quase nunca) voltavam, atraídos em geral pelo canto do saber do sudeste.
E hoje? Dez anos é tempo suficiente para julgar uma política pública e seus impactos. Quanto foi gasto? R$277 milhões de reais é a soma dos gastos todos da FAPEAM em 10 anos. Menos que metade de um estádio. Mais de 800 bolsas de douturado foram concedidas, mais de 1.800 de mestrado, mais de 10 mil bolsas de pesquisa para graduação, mais de 6 mil bolsas de pesquisa no ensino médio. Visite o site contesuahistoria.fapeam.am.gov.br para ver alguns relatos de vidas transformadas por esta pequena instituição, indo desde o financiamento da pesquisa do empresário Mário Oiram para desenvolver o vinho de cupuaçu até a Priscila Souza que odiava química no 2o grau mas foi expor na República Tcheca o desenvolvimento do sabão de óleo de fritura. O foco na pesquisa de ordem amazônica tem também ajudado a criar centros de excelência no Amazonas em áreas como saúde (FIOCRUZ, Fundação de Medicina Tropical, Fundação Alfredo da Matta, dentre outros), engenharias (na UFAM e UEA) e biológicas (no INPA e UFAM principalmente). A partir de 2007, iniciou-se também o processo de estímulo à pesquisa em empresas (PAPPE) e ao empreendedorismo, culminando com o patrocínio à criação de incubadoras de empresas inovadoras em instituições de pesquisa. Em 2013 a FAPEAM patrocinará duas disputas de planos de negócio (com a FGV e com a FUCAPI) como forma de estimular a reflexão sobre novos negócios. Sem falar no apoio irrestrito da FAPEAM desde a criação do Prêmio Samuel Benchimol, marco na geração de idéias por uma Amazônia melhor.
E deficiências? Como qualquer instituição, há sucessos e insucessos. Entretanto, como mostram os indicadores, há muitos avanços a um baixo custo. Daí a crítica: a FAPEAM é pequena demais. Orçamentos de 8 dígitos (dezenas de milhões) não condizem com a missão de transformar uma realidade e criar o conhecimento da Amazônia que liderará um povo no século XXI. Hoje, o que tiramos da floresta? Como tocamos nela? Precisamos falar em nove dígitos, centenas de milhões (ou ao menos uma centena para começar) para responder estas perguntas de forma que não sintamos vergonha ou angústia.
Sob a gestão dos distintos José Aldemir, Odenildo e Maria Olívia, a FAPEAM mostra um caminho estreito em terra batida para uma nova economia amazônica. Sem ciência ele não se alargará ou será asfaltado. Neste espírito, se convencido estiver o leitor, faço-lhe um pedido. Que apoie os nove dígitos! Ligue para seu deputado estadual e peça. Vote em quem os propuser. Se o governo federal não escolheu nos priorizar, escolhamos nós mesmos tomar as rédeas de nosso destino. Chega de choramingar.
*Denis Minev é diretor financeiro da Bemol e conselheiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam)