Cientistas revelam o ‘sistema operacional’ da vida na Terra
Quando os primeiros organismos surgiram na Terra, entre 4 bilhões e 3 bilhões de anos atrás, uma de suas características principais era a capacidade de produzir as proteínas essenciais não só para que permanecessem vivos como para que pudessem se reproduzir.
E desde estes tempos imemoriais, as “fábricas” de proteínas no interior das células de todos os seres vivos têm sido uma organela conhecida como ribossoma, num processo governado por um tipo de material genético especial chamado RNA ribossomal (rRNA).
Agora, cientistas analisaram a estrutura atômica de moléculas de rRNA de diversos organismos atuais e revelaram que todas elas foram construídas sobre o mesmo “código-fonte” do que acreditam ser o “sistema operacional” da origem da vida em nosso planeta.
“A história do ribossoma nos conta sobre a origem da vida”, diz Loren Williams, professora da Escola de Química e Bioquímica do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA, e uma das autoras do estudo, publicado na edição desta semana do periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). – Trabalhamos para mostrar em grande detalhe como o ribossoma se originou e evoluiu.
Na biologia, as informações genéticas contidas no DNA, como a que determina a produção de um tipo específico de proteína, precisam ser “traduzidas” em uma forma de RNA “mensageiro”, o mRNA, para saírem do núcleo das células e depois serem lidas nos ribossomas pela rRNA, que então fabrica as proteínas.
Segundo os pesquisadores, à medida em que os organismos vivos evoluíram e se tornaram mais complexos, o mesmo aconteceu com seus ribossomas e RNA, mas estas mudanças se deram apenas na “superfície”, já que o núcleo das moléculas de rRNA permaneceu essencialmente igual em humanos, fungos, bactérias e arqueias, domínio que abrange diversos tipos de seres unicelulares.
“Este sistema de tradução é o sistema operacional da vida. No seu núcleo, o ribossoma é igual em todo lugar, ele é a biologia universal”, acrescentou Williams.
No estudo, os pesquisadores identificaram marcas químicas nas moléculas de rRNA que demonstram onde novas estruturas foram acrescentadas a elas nos diferentes organismos, sem alterar, no entanto, o “código-fonte” pré-existente. Desta forma, eles puderam voltar no tempo da evolução da mesma maneira que um botânico usa os anéis no tronco de uma árvore para conhecer a história da planta, extrapolando o processo para gerar modelos dos ribossomas e RNA primitivos do último ancestral comum de todos os organismos.
“Aprendemos algumas das regras do ribossoma, como que a evolução pode mudá-lo desde que não mexa com seu núcleo. A evolução pode acrescentar coisas, mas não pode alterar o que já está lá”, finaliza Williams.
Fonte: O Globo