Comunidade científica pede ampliação de investimentos na Antártica
12/04/12 – A comunidade científica espera que o Brasil amplie os investimentos na Antártica. No final de fevereiro, um incêndio destruiu parcialmente a Estação Comandante Ferraz, que teve de interromper 40% de suas atividades. Os demais projetos são desenvolvidos em navios polares, acampamentos e na chamada Criosfera, um módulo científico instalado a mais de dois mil quilômetros da estação.
Na opinião do diretor do Centro Polar e Climático, professor Jefferson Cardia Simões, a qualidade da pesquisa determina o status de um país no Sistema do Tratado Antártico, que define o futuro do continente, que representa 10% da área do planeta.
Recursos para pesquisa – Jefferson Simões reclamou da participação brasileira nas pesquisas na Antártica. Ele lembrou que, no ano passado, foram destinados R$ 16 milhões do orçamento às pesquisas, mas a execução orçamentária atingiu apenas metade dos recursos. Para este ano, os recursos foram reduzidos para R$ 9,8 milhões.
O pesquisador explicou que os recursos não são destinados especificamente para a pesquisa e sim, para a logística, ou seja, inclui transporte e voos. "Para a pesquisa, a situação é pior. São mais de 300 cientistas que trabalham no Programa Antártico Brasileiro. Infelizmente, o único recurso garantido é o PPA para a Ciência Antártica, que é ao redor de R$ 1,1 milhão. É basicamente nada. Estamos sempre dependendo de emendas parlamentares, de ações de fundos setoriais e mesmo, circunstancialmente, de ações políticas."
Segundo o cientista, o valor ideal de recursos para a pesquisa seria de R$ 8 milhões por ano para atender a parte laboratorial e o apoio financeiro aos pesquisadores.
A representante do governo, coordenadora-geral de Mar e Antártica da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Janice Trotta, afirma que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação se preocupa em tornar constante e regular o volume de recursos para a Antártica. Ela cita, por exemplo, o crescimento dos recursos em 2007, que foi o Ano Polar Internacional.
O debate foi proposto pelas deputadas Jô Moraes (PCdoB-MG), Luciana Santos (PCdoB-PE) e Perpétua Almeida (PCdoB-AC). Para elas, o Brasil investe pouco em pesquisa científica na Antártica. "Como sexta potência econômica mundial, deveria assumir suas responsabilidade e garantir a imediata reestruturação da base para retomar as pesquisas o mais breve possível", diz Jô Moraes.
Papel do Legislativo – Janice reconhece a importância do Legislativo nesse papel. "O Ministério do Planejamento e Gestão Orçamentária faz a distribuição desses recursos; mas certamente o nosso grande contato com a sociedade civil é o Parlamento". Na opinião de Janice, o Parlamento pode ajudar na conscientização nacional, "na contextualização dessa necessidade, dessa fronteira de conhecimento científico que o Brasil não pode prescindir".
Formação de recursos humanos – Segundo a coordenadora do Instituto Nacional de Pesquisas Ambientais, Yocie Yoneshigue Valentin, a posição do Brasil como integrante consultivo do Sistema de Tratado Antártico exige uma mudança de modelo do programa científico brasileiro. É necessário aumentar os grupos de pesquisa e formar mais recursos humanos.
Entre as recomendações feitas pelos pesquisadores está a de arrendar mais um navio de pesquisa e assegurar o apoio a pesquisas oceanográficas já em desenvolvimento e garantir a renovação das cotas de bolsas. O grupo também pediu a criação de um grupo de trabalho com cientistas e que seja intensificada a cooperação internacional. Atualmente, 33 projetos ou ações são executados no continente. Sendo que 76% dos projetos na Antártica são feitos em parceria com outros países.
"Foi em estações como a Comandante Ferraz que se detectou o aumento da temperatura global, o efeito estufa, o aumento do buraco da camada de ozônio e o aumento do nível dos oceanos. Portanto, discutir o Programa Antártico Brasileiro é de fundamental importância, tanto para a ciência como para a humanidade, e o Brasil não pode se esquivar dessa responsabilidade", acrescentou a deputada Jô Moraes.
Fonte: Jornal da Ciência