Derretimento no Ártico cria novos deslocamentos de espécies
Pela primeira vez em cerca de 2 milhões de anos, o mar de gelo derretido do Ártico está conectando o Norte dos oceanos Atlântico e Pacífico. As novas ligações deixam as costas do Ártico vulneráveis a uma grande onda de espécies que podem se deslocar por aquela região, segundo biólogos do Smithsonian Environmental Research Center.
Enquanto novas oportunidades para a extração dos recursos naturais do Ártico e do comércio interoceânico são altos, navios comerciais, muitas vezes, inadvertidamente, podem levar estas espécies invasoras para o local. Organismos de portos anteriores podem agarrar-se a parte inferior dos seus cascos ou serem bombeados para tanques de água internos. Agora que a mudança climática tem dado a navios uma nova e mais curta maneira para atravessar entre os oceanos, a presença destas novas espécies está aumentando.
“(O efeito da) Expedição no Ártico é uma virada de jogo que se desenrolará em uma escala global”, disse o principal autor Whitman Miller. “A atração econômica do Ártico é enorme. Quer se trate de um maior acesso as ricas reservas de recursos naturais da região ou por um fluxo comercial mais rápido e mais barato na região. Se nada for feito, essas atividades irão alterar vastamente o intercâmbio de espécies, especialmente em todo o Ártico, ao norte do Atlântico e ao norte dos oceanos Pacífico”.
A primeira viagem comercial pela nova passagem no Noroeste, de uma transportadora da Inglaterra carregando carvão com destino à Finlândia, ocorreu em setembro de 2013. Enquanto isso, o tráfego através do Mar Rota do Norte tem aumentado rapidamente desde 2009. Os cientistas prevêem que no ritmo atual, este número continuar a subir 20 por cento a cada ano para o próximo quarto de século, e isso não leva em conta os navios que navegam ao próprio Ártico.
Durante os últimos 100 anos ou mais, a navegação entre os oceanos passava pelo Panamá ou pelo Canal de Suez, ambos contêm água morna, tropical, provavelmente para matar ou enfraquecer severamente potenciais invasores de regiões mais frias. No Canal do Panamá, as espécies nos cascos de navios também lidam com uma mudança brusca na salinidade, de uma água marinha para outra completamente doce. As passagens do Ártico contêm apenas água fria, marinha. Enquanto as espécies forem capazes de suportar temperaturas frias, suas chances de sobreviver a uma viagem Ártico serão boas. Isso, combinado com o comprimento mais curto das viagens, significa que um número maior de espécies deve sobreviver a jornada.
O Ártico detém cerca de 13% do petróleo inexplorado do mundo e 30 por cento de seu gás natural. A estimativa é que a Groenlândia possa suprir de 20 a 25% da demanda global de metais raros em um futuro próximo. Até o presente momento, o Ártico tem sido isolado do transporte intensivo, do desenvolvimento da costa e da presença constante de homens. Mas, cientistas apontam que este cenário deve mudar drasticamente nos próximos anos.
“A boa notícia é que o ecossistema do Ártico é ainda relativamente intacto e teve baixa exposição a invasões até agora”, disse o co-autor Greg Ruiz. “Este novo corredor está apenas abrindo. Agora é o momento para pensar em opções de gestão eficazes que impeçam um crescimento em invasões e minimize seus impactos ecológicos, econômicos e de saúde”.
Fonte: O Globo