ARTICULISTAS

A Amazônia sempre ocupou um espaço privilegiado no imaginário da sociedade. Os encantos e características de sua biodiversidade também alcançam ampla repercussão na mídia, por exemplo, antecipando o potencial de uso de plantas e microrganismos em aplicações medicinais, ou de outros recursos naturais em diversos segmentos industriais.

Apesar dos recentes avanços na capacidade regional (e local) de realizar pesquisas e produzir conhecimento sobre essa biodiversidade, ainda não fomos capazes de obter resultados significativos em uma importante dimensão de nosso desenvolvimento: o conhecimento produzido não tem se revertido, na mesma amplitude, na criação de valor econômico. Empresas pequenas e baixo valor agregado são comumente associados à atividade para a qual costumo usar o termo “bionegócio”. Mas quais seriam as principais causas desse descompasso?

Uma razão pode ser creditada à capacidade empreendedora em seu sentido mais amplo. Por exemplo, o bionegócio, em geral, exige um maior grau de educação formal e conhecimento, limitando o número de empreendedores. Outro fator que limita a capacidade empreendedora diz respeito à orientação das agendas de pesquisa, em sua maioria, pautadas pelo desafio cognitivo, com pouca ênfase em situações reais enfrentadas pelos agentes econômicos. Não se está advogando que todo pesquisador deva se transformar em empreendedor, mas apenas ressaltando que a escolha do objeto de pesquisa tem implicações futuras para a transferência do conhecimento a potenciais empreendedores, evidentemente, respeitando-se os devidos direitos de propriedade intelectual.

Uma segunda dificuldade relevante é a incapacidade para fornecimento regular de matérias-primas da biodiversidade em volume, regularidade e qualidade apropriadas ao abastecimento de atividades industriais de maior porte. Há muito progresso a ser feito na organização de cadeias produtivas.

Outro gargalo são as dificuldades impostas pela legislação que, neste caso, afetam todo o País. Burocracia para acesso e exploração dos recursos naturais, limitações metodológicas para a determinação da justa repartição de benefícios relacionados ao conhecimento tradicional, além de intrincados processos para aprovação e comercialização de novos produtos são exemplos do dia a dia dos envolvidos.

Aprofundar o entendimento das duas primeiras causas, nas quais talvez tenhamos maior possibilidade de intervir, é um ponto óbvio de partida para desembarcar do discurso em direção a resultados concretos na economia do bionegócio.

Alcançamos um momento em que reconhecer o potencial econômico da biodiversidade não é mais suficiente; é necessário concretizá-lo.

Mas isso exige atitude, um recurso que também tem se mostrado um tanto quanto escasso.

Guajarino de Araújo Filho é colaborador da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi)

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