Ennio Candotti, do Musa
CIÊNCIAEMPAUTA, POR FABRÍCIO ÂNGELO
Nascido em Roma, o professor Ennio Candotti é naturalizado brasileiro desde 1983. Formou-se bacharel em Física pela USP, em 1964, e recebeu a ‘Láurea’ em Física pela Universidade de Nápoles, em 1972.
Foi professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Departamento de Física da Universidade Federal do Espirito Santo. Também foi presidente da Sociedade Brasileira de para o Progresso da Ciência.
Atualmente é diretor geral do Museu da Amazônia (Musa) e conversou com o CIÊNCIAemPAUTA sobre as atividades da instituição.
CIÊNCIAemPAUTA: Como nasceu a ideia de criação do Museu da Amazônia (Musa)?
Ennio Candotti: O Musa nasceu de um projeto da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI-AM) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) financiado pelo Fundo Amazônia e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
A ideia inicial, o projeto conceitual era fazer um museu vivo na floresta. O que quer dizer isso, em museus tradicionais o espaço amazônico é construído artificialmente, você vai a Nova York, Paris, Londres, e existem esses lugares. Nós já temos o local naturalmente e o adequamos às exigências da visitação de museu, não é apenas um passeio, mas um passeio com informação com uma ordem e prioridades.
CIÊNCIAemPAUTA: O Museu está localizado em uma área protegida, o Jardim Botânico de Manaus, isso ajuda na preservação da biodiversidade local?
E.C: O nosso objetivo é valorizar a floresta, os insetos e animais para que possamos contribuir para a sua preservação e valorização. O nosso lema é conhecer para conservar, não adianta apenas proibir por proibir. A manutenção do bioma não é um problema de polícia é uma situação de educação, pesquisa, conhecimento. O conhecimento sobre a dinâmica da vida na floresta ainda é muito reduzido. Sabe-se da morfologia, da estática. As gavetas dos museus estão cheias de insetos alfinetados, mas sabemos pouco do comportamento desses insetos e da própria vida das árvores.
CIÊNCIAemPAUTA: Muito se fala sobre a exuberância da floresta e sua fauna, mas a grande riqueza da Amazônia são os milhares de insetos que a habitam e ainda são desconhecidos. Como o Musa aborda esse aspecto?
E.C: Um jardim botânico é conhecido pela vida de suas árvores e não pelos insetos polinizadores que são tão importantes quanto às árvores. Pode parecer estranho, mas o Jardim Botânico deveria se chamar na verdade Jardim Zoobotânico ou Insectozoobotânico ou Polinibotânico. É isso que estamos tentando construir e mostrar ao visitante, a Amazônia na sua complexidade, nos formigueiros, cupinzeiros, as cigarras, os lagartos. A microfauna amazônica é muito mais rica que a megafauna. Aqui vemos poucos animais de grande porte, mas temos uma quantidade imensa de insetos e é isso que queremos apresentar aos visitantes.
Pesquisadores têm nos ajudado a saber caracterizar o modo de observação e o sistema visual, auditivo, tátil e degustativo dos insetos. Já sabemos que muitos insetos são daltônicos, enxergam só em duas cores, além de outras descobertas sobre esses seres, há uma riqueza de micromundo da floresta, isto que nós gostaríamos de explorar.
CIÊNCIAemPAUTA: Outro lado pouco explorado da floresta é a história antropológica que ela guarda, também é objetivo do Musa divulgar esse tema?
E.C: A floresta é habitada por pessoas há pelo menos dez mil, existem culturas que são capazes de sobreviver assim na floresta como ela está. Isso seria impossível para os cidadãos urbanos até mesmo da Amazônia. Imagine quanto da população urbana conseguiria viver na mata sem o apoio de uma equipe de especialistas. É imprescindível difundir a cultura indígena. Ela tem um incalculável valor histórico, antropológico, etnográfico e prático que ajudar a preservar o bioma. O Musa quer contribuir para que as pessoas possam olhar para a floresta com um olhar sob um novo ponto de vista.
CIÊNCIAemPAUTA: Quais os novos projetos do Museu da Amazônia?
E.C: Acabamos de construir a torre de observação e queremos que ela sirva de laboratório e de entretenimento científico. Eu acredito que uma pessoa depois que sobe nessa torre não precisará de nenhuma explicação de porquê a floresta deve ser conservada.
Também temos o orquidário, o borboletário, quem nos visita tem a oportunidade de conhecer os insetos, ver a lagoa. Outro projeto, em conjunto com a Fundação de Medicina Tropical (FMT) é a instalação de um serpentário, onde poderemos estudar esses repteis e, no futuro, mostrar aos visitantes os aspectos da vida dos ofídios. As serpentes são muito importantes para manutenção do ciclo de vida da floresta.
CIÊNCIAemPAUTA, por Fabrício Ângelo