Entrevista Especial: ‘Ciência no Brasil precisa de condições para continuar dando saltos de qualidade’
O doutor em Biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adalberto Ramon Vieyra, proferiu a palestra magna do 3º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013, que teve como tema “Ciência e Educação para o desenvolvimento”. Aos 68 anos, o médico é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Adalberto R. Vieyra concedeu entrevista exclusiva para o CIÊNCIAemPAUTA abordando questões relacionadas ao tema de sua palestra, ao ensino superir e à preparação do Brasil para o Fórum Mundial de Ciência, a ser realizado em novembro do próximo ano, no Rio de Janeiro.
CIÊNCIAemPAUTA – Que aspectos o senhor abordou durante a palestra magna do 3º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013?
Adalberto Vieyra: Eu fiz um roteiro começando pelos desafios globais para a Amazônia. E depois falei de algumas convicções e também trouxe um panorama da pós-graduação, passando pelas assimetrias regionais em termos de ciência e educação. Também toquei no assunto delicado do declínio dos investimentos em CT& I, quando comparado à primeira década do século, além da situação da educação em todos os níveis. Finalmente abordei sobre o Fórum Mundial em uma perspectiva a partir da Amazônia.
CIÊNCIAemPAUTA- A educação superior ainda apresenta problemas no Brasil. Como mudar esse quadro?
Adalberto Vieyra: O ensino superior tem algumas virtudes em função do seu desenvolvimento e contribuição para o aprimoramento da educação básica. Esse é um conceito que está começando a aparecer. Estou convicto que a educação superior tem sua grande importância para a básica, que não passa apenas por melhores salários, professores e melhores escolas. A educação básica passa por uma mudança de postura dos estudantes sobre o conhecimento e a ciência.
CIÊNCIAemPAUTA – Como o senhor avalia a ciência produzida pelo Brasil hoje?
Adalberto Vieyra: Avalio como importante em termos de qualidade e quantidade. Entretanto, imagino que ela precise de condições para continuar dando saltos de qualidade. Isso se compararmos com outros países em desenvolvimento político, econômico e social, como o Brasil.
CIÊNCIAemPAUTA- Na sua opinião, qual a importância da reunião preparatória em Manaus?
Adalberto Vieyra: É emblemático que essa reunião esteja acontecendo em Manaus, na Amazônia. Tem um simbolismo muito grande. Muitas vezes falamos dos problemas da biodiversidade e de outros, e pouco temos de realidade. E realizar essa reunião aqui, é ouvirmos o que a Amazônia pensa sobre questões importantes para inserirmos no Fórum.
CIÊNCIAemPAUTA- Essa é a primeira vez que o Fórum Mundial é realizado fora da Europa. Como o senhor vê essa escolha do Brasil para sediar o evento?
Adalberto Vieyra: Vejo como um reconhecimento de que o Brasil tem se destacado na área de CT& e tem a cada dia adquirido respeitabilidade da comunidade científica mundial. Inclusive, pode ser considerado entre os países em desenvolvimento como uma grande potência. E essa é uma oportunidade a mais para mostrar a sua inserção no cenário mundial.
Os encontros preparatórios para o Fórum Mundial de Ciência 2013 estão sendo promovidos pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Amazonas é o único estado da região Norte a sediar um dos encontros. O evento, em Manaus, é coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (SECTI-AM) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
RETROSPECTIVA
O primeiro encontro preparatório ocorreu na cidade de São Paulo, no mês de agosto, com o tema “Ciência para o Desenvolvimento Global: da educação para a inovação – construindo as bases para a cidadania e o desenvolvimento sustentável”. Em seguida, foi a vez de Belo Horizonte ( MG) receber a reunião, que tratou sobre “Desafios para o desenvolvimento científico e tecnológico nos trópicos”.
Após o encontro em Manaus, as próximas cidades a sediar o evento serão Salvador (BA), Recife (PE), Porto Alegre (RS) e Brasília (DF).
SOBRE O FÓRUM MUNDIAL
Pela primeira vez em sua história, o Fórum ocorrerá fora da Hungria, país que deu origem ao evento. O 6º Fórum Mundial da Ciência será realizado em novembro de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, com o tema“A Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global” e conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
A coordenação das ações do evento no Brasil é de responsabilidade o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com as principais instituições científicas brasileiras.
CIÊNCIAemPAUTA, por Danyelle Soares