Estudo britânico expõe ‘falha’ de goleiros em cobrança de pênaltis

O goleiro Júlio César na partida entre Brasil e Chile que foi decidida nos pênaltis na Copa de 2014. Foto: Alexandre Cassiano/AgênciaOGlobo

Cientistas britânicos descobriram um comportamento comum entre goleiros que poderia ter mudado muitos resultados históricos no futebol: depois de três chutes na mesma direção numa cobrança de pênaltis, eles tendem a se lançar para o lado oposto no lance seguinte. Por outro lado, pelo menos até o momento, esta realidade não parece ter sido explorada pelos jogadores. A pesquisa se baseou em lances de Copas do Mundo e Eurocopas.

Segundo pesquisadores da Universidade College London (UCL), este comportamento se deve ao que chamam de “falácia do jogador”, muito visível em jogos de “cara ou coroa”. Depois de uma série de “caras”, as pessoas erroneamente acreditam que existe um aumento da possibilidade de que o próximo resultado seja “coroa”. Mas, ao longo de toda a aposta, as chances são sempre de 50% para qualquer um do lados.

“Depois de três chutes, essa comportamento começa a aparecer. Cerca de 69% das defesas são na direção oposta à última bola, enquanto 31% são na mesma direção, depois de três bolas consecutivas na mesma direção”, disse o principal autor do estudo, Erman Misirlisoy.

O estudo foi publicado na revista Current Biology. Para chegar à conclusão, os pesquisadores analisaram vídeos de edições da Copa do Mundo e da Eurocopa, entre 1976 e 2012, dos quais foram estudados os comportamentos dos jogadores em 37 partidas decididas nos pênaltis.

Os pesquisadores, entretanto, também descobriram que os jogadores ainda não tiram proveito da tendência ilógica dos goleiros. Mas, segundo eles, a constatação da pesquisa pode, sim, servir de vantagem.

‘Como o goleiro mostra a “falácia do jogador”, jogadores poderiam prever a provável direção que a defesa do goleiro tomaria. E isso, obviamente, daria ao autor do chute uma vantagem. Ele só teria que chutar para o lado oposto”, disse Misirlisoy.

Mas, para os pesquisadores, como os jogadores costumam estar sob forte pressão em campo, não conseguem perceber essa tendência. Eles não prestam atenção suficiente na sequência anterior de chutes.

Para se ter uma ideia de como essa descoberta pode ter impacto sobre os jogos, basta imaginar que na Copa do Mundo de 2014 no Brasil quatro partidas foram decididas nos pênaltis – marca compartilhada pelos mundiais da Itália em 1990 e da Alemanha em 2006.

Um bom exemplo da situação foi registrado no jogo entre Inglaterra e Portugal, na Eurocopa de 2004. O jogo foi para os pênaltis, e os três primeiros jogadores portugueses chutaram para a esquerda. Na quarta penalidade, o goleiro Inglês, David James, foi para a direita. O próximo jogador Português chutou novamente à esquerda e marcou. Portugal venceu por 6 a 5.

Fonte: O Globo