Estudo sobre câncer infantil revela redução da mortalidade pela doença
Responsável por aproximadamente 7 milhões de óbitos no mundo, o câncer é atualmente um grave problema de saúde pública que acomete os diversos grupos etários, inclusive crianças. O câncer infantil corresponde a 3% dos casos de tumores malignos no mundo, sendo diagnosticados mais de 160 mil casos mundiais por ano. Porém, estudos recentes revelam que a incidência da doença no grupo etário vem se estabilizando mundialmente desde 1990. E, no que diz respeito à tendência de morte pela doença em crianças brasileiras, as notícias também são animadoras. É o que indica a dissertação de mestrado Câncer da infância e da adolescência – tendência de mortalidade em menores de 20 anos no Brasil, apresentada na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Desenvolvida por Débora Santos da Silva, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o estudo reflete uma possível redução ou estabilidade da mortalidade pela doença nessa parcela da população.
Baseado em dados de óbito por câncer em menores de 20 anos no país, obtidos do Sistema de Informações sobre Mortalidade/Datasus, o estudo está estruturado sob a forma de dois artigos. O primeiro analisa a tendência da mortalidade pela doença na população com menos de 20 anos de idade, segundo sexo e faixa etária, no Brasil e em suas cinco regiões geográficas.
Já o segundo aborda a mortalidade por leucemias e linfomas – as neoplasias hematológicas mais frequentes em crianças e adolescentes – em menores de vinte anos nas capitais brasileiras que dispõem de Registros de Câncer de Base Populacional. “A análise das tendências de mortalidade por câncer infantil pode fornecer subsídios para avaliar a efetividade das estratégias de detecção precoce e intervenção, voltadas para esse grupo populacional, que vêm sendo executadas no país. Além disso, são análises de baixo custo e fácil execução”, argumentam as pesquisadoras.
Ao analisar o padrão de distribuição da mortalidade por câncer quanto ao sexo e faixa etária nas diferentes regiões brasileiras, no período de 1981 a 2008, o estudo revelou redução das taxas de mortalidade pela doença em menores de 20 anos. “Esse declínio da mortalidade pode, em parte, ser explicado pela melhora na terapêutica contra o câncer, sobretudo para a leucemia infantil”, declaram as estudiosas.
MAIOR INCIDÊNCIA EM MENINOS
As taxas de mortalidade mais elevadas foram encontradas no sexo masculino, para todas as faixas etárias estudadas, variando entre 53,76/1 milhão e 48,37/1 milhão nos quadriênios 1981-1984 e 2005-2008. Crianças menores de 1 ano e entre 1 e 4 anos apresentaram tendência decrescente e constante da mortalidade pela doença durante todo o período analisado. Na estratificação por sexo, o estudo mostra tendência de declínio dos índices de mortalidade pela doença, com estabilização no fim do período, tanto para o sexo masculino quanto para o feminino em menores de 20 anos.
Em relação às regiões geográficas brasileiras, os resultados divergem: o Norte e o Nordeste apresentaram aumento da magnitude das taxas de mortalidade pela doença; enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste houve tendência de declínio. “Os achados sugerem a existência de diferenças no acesso ao diagnóstico e tratamento para a doença no país”, atentam as pesquisadoras. Quanto aos tipos de neoplasias, predominaram as leucemias, com variação de 30% a 33% durante todo o período do estudo, seguido das neoplasias do sistema nervoso central, com taxa de 17% a 21%, e dos linfomas não-Hodgkin, que variaram de 6,9% a 5,7% entre 1996 e 2008.
No que diz respeito à tendência de mortalidade por linfoma e leucemia em menores de 20 anos no Brasil entre 1996 e 2008, os resultados também foram otimistas, revelando tendência de declínio das taxas de óbito por linfomas no período, com variação somente entre as faixas de idade analisadas. Neste tipo neoplásico, houve redução das taxas de mortalidade para todos os grupos de idade estudados, exceto para o de crianças entre 10 e 14 anos. Quanto às leucemias, não houve modelo estatisticamente significativo. As taxas de mortalidade por este tipo de neoplasia foram mais altas para todo o período e faixas etárias estudadas, com índices mais elevados em crianças de até 4 anos.
Os achados ainda indicam variação da tendência da mortalidade por leucemia e linfoma segundo as capitais brasileiras, refletindo possíveis iniquidades no acesso ao diagnóstico e tratamento das duas doenças. Houve declínio da mortalidade por leucemia na maioria das capitais estudadas, exceto em Belém, João Pessoa e Palmas, cidades que apresentaram crescimento de óbitos pela neoplasia.
Para os linfomas, o estudo apontou redução das taxas de mortalidade em Belém, Campo Grande e São Paulo. “Os serviços especializados para o tratamento ao câncer estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste, o que pode explicar, em parte, o declínio da mortalidade por leucemias e linfomas nas capitais localizadas nessas regiões”, afirmam as estudiosas, que também atribuem o aumento da mortalidade em algumas capitais à melhora da qualidade da certificação do óbito nessas cidades. Diante dos resultados, as pesquisadoras fazem um alerta: “É importante reduzir as iniquidades geográficas, garantido o acesso aos centros especializados para o diagnóstico precoce e o tratamento de qualidade, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do País”.
Fonte: Jornal Brasil On-line