EVENTOS – Doenças negligenciadas são debatidas na SBPC

Um debate oportuno, principalmente se pensarmos em algumas doenças com alto índice de incidência no Amazonas, aconteceu na tarde desta quarta-feira, 13 de julho, na 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia. O tema em questão foi ‘Políticas Públicas em Doenças Negligenciadas’.

O palestrante e representante da Fiocruz, Mitermayer Galvão dos Reis, foi contundente ao afirmar, logo no início, que “não há doenças negligenciadas, mas populações negligenciadas”. De acordo com Reis, a rápida transição demográfica brasileira da zona rural para a urbana foi um dos principais fatores que contribuíram para o problema, pois várias pessoas passaram a residir em locais sem qualquer infraestrutura, higiene, saneamento e qualidade de vida.

Ainda segundo Reis, a falta de um saneamento básico que envolva uma distribuição de água adequada, uma coleta de resíduos sólidos eficiente e um tratamento correto de esgoto, somados ao crescimento desordenado dos grandes centros, contribuem para o aparecimento de doenças como dengue, leptospirose, doença de chagas, malária, entre outras.

“É um grande desafio para a Ciência obter resultados para as questões como água, alimentos, alterações climáticas, etc.”, afirmou.

O estudo de Reis foi realizado na comunidade de ‘Pau de Lima’, em Salvador-BA, contudo, reflete o panorama de várias cidades brasileiras. Para o pesquisador, os investimentos públicos realizados em estudos na área da saúde contribuem para o combate aos problemas, como a criação de um aparelho capaz de diagnosticar, em apenas 15 minutos, a ocorrência de leptospirose. “Isso é produto do SUS brasileiro, com o apoio das Universidades de Cornell e da Califórnia”, disse Reis.

Entenda o que são doenças negligenciadas

Doenças negligenciadas são doenças que se desenvolvem e prevalecem em condições de pobreza, como por exemplo, a dengue, doença de Chagas, esquistossomose, hanseníase, leishmaniose, malária, tuberculose, meningite, hipertensão, entre outras.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas estão infectadas com uma ou mais doenças negligenciadas, o que representa um sexto da população mundial. Embora exista financiamento para pesquisas relacionadas a essas doenças, o conhecimento produzido não se reverte em avanços terapêuticos.

Uma das razões para esse quadro é o baixo interesse da indústria farmacêutica pelo tema, justificado pelo reduzido potencial de retorno lucrativo para a indústria. Por isso a importância dos investimentos do setor público nesta área.

É preciso inovar afirma MCT

“Apesar do aumento significativo de mais de 300% nos últimos 10 anos em investimentos em pesquisas na área da saúde no Brasil, esses números ainda não se reverteram na criação e produção de medicamentos destinados ao combate às doenças negligenciadas. É preciso investir em Inovação neste setor”. A afirmação foi da coordenadora-geral de Fomento à Pesquisa em Saúde do Departamento de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Ciência e Tecnologia (SCTIE/MTC), Márcia Motta.

Para Motta, os investimentos se traduziram em produção do conhecimento, colocando o Brasil na décima terceira colocação em produção de artigos acadêmicos. Entretanto, a Inovação não pode ser deixada de lado.

A palestrante apresentou ainda os investimentos que o MCT está realizando na área da saúde, como o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa) que corresponde a uma investigação multicêntrica composta de seis instituições públicas de ensino superior e pesquisa das regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil e o Projeto de Pesquisa de Estudos de Riscos Cardiovasculares em Adolescente (Erica).

A 63ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência acontece até sexta-feira, 15 de julho, nas dependências da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia.

Foto 1 – Mitermayer Galvão dos Reis afirma que não há doenças negligenciadas, mas populações negligenciadas (Carlos Fábio)

Foto 2 – Dengue é uma das doenças que preocupam (Divulgação)

Fonte: Agência FAPEAM, por Carlos Fábio Guimarães