Expansão imobiliária diminui área de produção agrícola, aponta pesquisa

06/01/2012 – A ocupação humana próximo de áreas agrícolas localizadas na comunidade Cidade de Deus, no bairro Cidade Nova, zona norte de Manaus, está interferindo na continuidade do trabalho dos pequenos agricultores. A faixa etária das pessoas que trabalham nesse setor é diversificada, destacando-se a população juvenil (de 15 a 18 anos) e a adulta (26 até 50 anos), e a renda familiar varia de um a três salários mínimos. As informações fazem parte do levantamento feito pela pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Susianne Gomes da Conceição Bernardes, durante o mestrado de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia.

Segundo Bernardes, a pesquisa foi realizada com dez produtores de hortaliças e consistiu em analisar a influência da urbanização na atividade agrícola. O trabalho foi organizado em fases distintas. A primeira foi a seleção e análise de documentos. Na segunda fase houve a realização de trabalho de campo, pesquisa junto às instituições administrativas, registro fotográfico, entrevistas e aplicação de formulários. As duas últimas fases compreenderam a sistematização e a análise da informações obtidas.

Resultados

A pesquisa constatou que a urbanização provoca a diminuição da área do produtor agrícola em 30% e, segundo os agricultores, a urbanização também está interferindo na continuidade do trabalho. “Cerca de 60% acreditam na interferência da expansão urbana. No que tange à renda familiar dos agricultores, obtida unicamente com a produção de hortaliças, 40% conseguem entre 1 e 3 salários mínimos, em seguida estão aqueles que faturam acima de 5 salários. As famílias com renda entre 3 e 5 salários mínimos correspondem a 20% do total”, informou Bernardes. 

Atualmente, a pesquisadora é aluna de doutorado também em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia (Ufam). Ela disse que apesar de o levantamento ter iniciado em 2008 e ter sido concluído em 2010, os dados continuam atuais, pois a expansão imobiliária na cidade tem diminuído a área de cultivo de hortaliças e os produtores têm migrado para outras atividades. A pesquisa foi expandida para o doutorado, abrangendo a Região Metropolitana de Manaus (RMM), focada nos municípios de Iranduba e Manacapuru, distantes 27 km e 69 km da capital, respectivamente.

As justificativas para a diminuição das áreas de produção agrícola, conforme Bernardes são: a expansão demográfica, como invasões, criação de bairros e conjuntos habitacionais, além da criação e expansão das vias públicas. Ela explicou que a partir da criação da Região Metropolitana de Manaus (RMM), em 2007, houve maior pressão sobre as terras cultiváveis com impactos em sua configuração socioespacial.

“A expansão urbana rumo às zonas norte e leste de Manaus causou a degradação ecológica em tais áreas como, por exemplo, a perda da cobertura vegetal, o assoreamento e a poluição dos corpos d’água. Apesar de Manaus possuir um dos maiores PIBs (Produto Interno Bruto) em relação a municípios do Brasil, em decorrência do Polo Industrial de Manaus (PIM), a cidade apresenta elevados índices de desigualdades socioeconômicas quando observados os Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) dos bairros de Manaus no Atlas de Desenvolvimento Humano Municipal”, salientou.

De acordo com Bernardes, a agricultura da cidade, especificamente da comunidade Cidade de Deus, caracteriza-se por seu cunho familiar. Entretanto, todas as unidades de produção direcionam boa parte das hortaliças à comercialização. Consequentemente, o estilo de vida ainda tem alguns traços do rural.

Agricultura e meio ambiente

Sobre o futuro da agricultura no contexto urbano, a pesquisadora disse que pode acontecer de três formas: a primeira envolve o desaparecimento pela substituição por outros tipos de atividades peculiares à vida urbana, ou pode passar por uma transformação que a deixe plenamente voltada para a lógica capitalista, tendo ligação direta com o setor industrial. Por último, a resistência frente aos acontecimentos típicos da urbanização por meio da adoção de práticas de fortalecimento da categoria.

No que diz respeito à relação entre agricultor e ambiente, segundo a visão dos trabalhadores, a atividade não prejudica o ambiente, apesar do uso dos recursos naturais disponíveis, do adubo químico e/ou de inseticidas. Conforme Bernardes, entre os recursos ambientais empregados, a água do igarapé é o mais utilizado, seguido do uso da terra, pó e coleta de frutos. “Foram constatados problemas na comunidade, como cursos d’água poluídos e assoreados, empobrecimento dos solos, áreas de encostas sem cobertura vegetal, erosões e disposição inadequada de resíduos sólidos”, lamentou.

Segundo a pesquisadora, diante da problemática ambiental, os agricultores sabem que um ambiente degradado traz prejuízos à produção agrícola, agindo diretamente na qualidade/quantidade de hortaliças, tempo de colheita da produção e na saúde do trabalhador. “Apesar dos problemas relacionados à infraestrutura, que interfere no desenvolvimento da agricultura, uma parcela considerável de agricultores acredita que a atividade pode expandir com a urbanização vigente em Manaus, pois talvez haja uma maior demanda por produtos alimentícios diante do crescimento populacional”, finalizou.

Fonte: Agência FAPEAM, por Luís Mansuêto