ARTICULISTAS

* Osíris Silva

As reuniões preparatórias ao Fórum Mundial de Ciências (Rio de janeiro, 2013) levadas a efeito em Manaus de 28 a 30 de novembro passado, no auditório do Inpa, deixaram algumas inquietantes preocupações e incertezas. Sobretudo no que diz respeito ao que o Brasil espera da Amazônia.

Pessoalmente vejo que as mesmas indefinições e hesitações de 50 anos atrás resistem ao tempo. O governo brasileiro não avança sobre o uso da ciência, desenvolvimento de tecnologia e inovação (CT&I) em favor do desenvolvimento regional. Houve convergências teóricas durante os painéis de debate, porém certo tipo de alheamento sobre questões práticas e objetivas mantém-se inalterável.

Segurança da biodiversidade, por exemplo. Saída de sementes e espécimes da fauna e flora ainda é objeto de pirataria hoje. Informou-se durante o evento que a Índia, nesse sentido, radicalizou. Simplesmente proibiu a evasão de qualquer material biogenético de seu território, sob o pretexto de que o país é capaz de explorar cientificamente qualquer recurso de sua biodiversidade. Ou seja, de cuidar de seu próprio terreno. Ao que entendo, ao indianos estão absolutamente certos. Se não valorizamos nossas riquezas, quem o fará? Os exemplos de roubo de recursos biogenéticos de nossa região continuam assustadores.

Tornam-se, por outro lado, inócuas respostas científicas não acessíveis à sociedade. Há diversos exemplos práticos nesse sentido. Embrapa/Inpa/Universidade nos devem pacotes tecnológicos para extensa gama de produtos regionais. Sem o que não é possível torná-los  bens econômicos a serviço de nosso desenvolvimento. O Brasil investiu na agropecuária, no crescimento industrial, mas esqueceu do principal: educação, ciência e tecnologia. O país evoluiu, em menos de 50 anos, do campesinato à condição de um dos maiores produtores de alimentos do Planeta, porém as disparidades regionais ampliaram-se nesse período. Na Amazônia esses fatores são ainda mais recrudescentes.

Segundo o Prof. Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental (Cpatu), “a reunião do Fórum Mundial de Ciência carregou demasiadamente na vertente social e ambiental, esquecendo que temos 25 milhões de pessoas para alimentar, gerar emprego e renda na região”. Enquanto as reuniões em São Paulo e Belo Horizonte tiveram uma visão mais científica, acrescenta, “preocupando-se com o desafio de suprir alimentos aos 9 bilhões de habitantes que terá a Terra em 2050, não se verificou, nas reuniões preparatórias de Manaus, preocupação com o setor produtivo”.

O Código Florestal, observa Homma, “se de fato implementado, vai colocar os produtores da Amazônia legal (com exceção do Amapá e Roraima, que podem utilizar 50% das terras agriculturáveis) na perigosa condição de ter de trabalhar apenas 20% da área de sua propriedade, destinando-se 80% para reserva, enquanto noutras regiões se dará o inverso”. Tal situação implicará enormes desafios quanto à formatação de sistemas produtivos alternativos.

Dificilmente, complementa Alfredo Homma, “vamos salvar a Amazônia fabricando cosméticos ou fármacos”. Governos da região, universidades, institutos de pesquisa e sociedade precisam ter em mente quais exatamente as propostas objetivas a serem apresentadas perante o Fórum. E em que escala de prioridade. Memoriais, na era cibernética das comunicações, não passam de figuras retóricas vazias.

Temas prolixos e generalidades improdutivas também estão descartados. Naquele encontro estarão presentes as principais cabeças do mundo científico. Insta-se, por conseguinte, a apresentação de projetos viáveis que demonstrem exatamente o juízo de valor que alimentamos sobre o desenvolvimento do setentrião brasileiro

 

* Osíris Silva é colunista permanente do Jornal A Crítica, do Amazonas.

Este artigo foi divulgado anteriormente no Jornal da Ciência. A equipe do CIÊNCIAemPAUTA esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do site.