Graça Alecrim fala sobre a trajetória da FMT-HVD que completa 40 anos

Graça Alecrim, diretora-presidenta da Fundação de Medicina Tropical. Foto: Érico Xavier/Agência Fapeam

No dia em que a Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) completa 40 anos, a diretora-presidente da Fundação, Graça Alecrim, conta detalhes da trajetória da instituição.

A Fundação, que iniciou a atuação como o Hospital de Moléstias Tropicais, hoje é um dos centros de referência na assistência, ensino e pesquisa relacionados ao diagnóstico e tratamento das doenças tropicais e infecto-parasitárias.

Nesta entrevista à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a doutora Graça Alecrim destaca os avanços da instituição neste período e informa as perspectivas para os próximos anos. Confira:

Agência FapeamA Fundação completa 40 anos este ano. Na sua avaliação qual a maior contribuição da instituição para saúde pública do Amazonas nesse período?

Graça Alecrim: Nós executamos projetos pilotos que mudaram a saúde pública e condutas não só no Amazonas, mas no Brasil, principalmente na mudança de paradigmas do tratamento e da epidemiologia das doenças tropicais.

Nós fizemos os primeiros testes rápidos de HIV e, em parceria, trabalhando em rede com institutos do Rio de Janeiro realizamos o teste rápido para diagnosticar tuberculose.

Na parte do ensino, fomos a segunda instituição no Estado e do Sistema Único de Saúde (SUS) a ter residência médica. Temos a residência médica em doenças infecciosas e parasitarias com mais de 25 anos, a de dermatologia e agora, mais recentemente, abrimos mais três cursos de residência em Pediatria, Hepatologia e a multiprofissional que é a qualificação de outros profissionais da área de saúde como psicólogos, farmacêuticos, bioquímicos, enfermeiros e fisioterapeutas. Ou seja, daremos um avanço na qualificação das pessoas que trabalham na área da saúde.

Quero citar ainda os nossos cursos de Mestrado e Doutorado. Começamos com o mestrado em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e, depois, o Doutorado. Na região Norte, somos o único curso em Medicina Tropical, abrangendo também as doenças infecciosas, que tem nota cinco na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Isso nos orgulha bastante.

AF: Como começou a sua trajetória na FMT-HVD?

GA: Tenho o privilégio de ser uma das médicas que iniciou, ainda quando estudante, a trabalhar com doenças infecciosas e parasitárias e medicina tropical com o Dourado (Heitor Vieira Dourado) e o Borborema (Carlos Telles de Borborema), nossos professores.

No início dos anos de 1970 foi criada uma enfermaria onde nós começamos a trabalhar com os doutores Dourado e Borborema. Em 1971, foi inaugurado o Hospital de Moléstias Tropicais que depois passou a ser Instituto de Medicina Tropical e, anos depois, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Em homenagem ao doutor Dourado, que já faleceu, hoje a fundação se chama Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

O que é gratificante é que durante toda essa trajetória de 40 anos nós tivemos uma evolução na instituição e na saúde pública do País. A instituição foi criada com a ideia de ter a assistência, o ensino e a pesquisa, cresceu nesses três quesitos.

AF: Quais os tipos de pesquisas que são desenvolvidas pela Fundação?

GA: Nós temos pesquisas em todas as áreas da medicina tropical e das doenças infecciosas. Estamos com um programa, no qual estão começando a fazer o desenho para testar uma vacina contra a dengue. Há estudos em outras instituições sobre a dengue, mas a vacina ainda não está em uso pela população. Trabalhamos ainda testando novas drogas, por exemplo, para malária e leishmaniose e trabalhando no controle e epidemiologia das hepatites.

Temos mais de uma centena de projetos de pesquisa, além de várias parcerias com universidades e instituições do exterior, melhorando a nossa área de pesquisa e, consequentemente, nossa assistência e ensino.

Um dos feitos da fundação foram os estudos das hepatites. O grupo do professor José Carlos Ferraz detectou que a doença hemorrágica de Lábrea (distante 610 quilômetros), que se chamava febre negra de Lábrea era uma associação do vírus Delta com o vírus da hepatite B. Isso foi um avanço importante, porque a partir disto levamos a vacinação em massa à população do interior do Estado para hepatite B.

AF: Atualmente, qual a capacidade de atendimento da Fundação?

GATemos um corpo técnico com mais de mil profissionais diretos, além dos terceirizados. Ano passado, entre exames e atendimentos, foram mais de 1,3 milhão de pacientes atendidos pela Fundação.  Hoje, temos em torno de cinco mil pacientes em tratamento, entre ambulatório e internação, com HIV associados ou não a outras infecções.

AF: No dia em que é comemorado os 40 anos da Fundação, será inaugurada a 1ª enfermaria do Norte para isolamento para infecções respiratórias. Como ela funcionará e quantos pacientes serão beneficiados?

GA: Estamos inaugurando, com auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que é nossa parceira em todos os projetos, a 1ª  enfermaria de isolamento para infecção respiratória, como a tuberculose. Nela poderemos não só fazer diagnósticos como testar novas drogas. São 13 leitos, todos dentro das especificações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

AF: O que pacientes e funcionários podem esperar de novidades em relação à atuação da Fundação nos próximos anos?

GATambém estamos reinaugurando um auditório, que era de 80 lugares e passará a ter 130, totalmente reformulado, com uma excelente estrutura. Inauguraremos também um grande laboratório para as doenças infecciosas, com recursos federais e da Fapeam.

Até agosto deste ano também inauguraremos uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) pediátrica e finalizaremos nosso ambulatório, localizado no térreo da Fundação, onde também teremos uma área com filtros dentro dos padrões da Anvisa. As perspectivas são as melhores possíveis.

Fonte: Agência Fapeam, por Camila Carvalho