Informática e internet auxiliam línguas ameaçadas de extinção
23/02/12 – A informática e a internet estão sendo utilizadas por povos e cientistas para salvar línguas ameaçadas de extinção, com equipes de linguistas criando programas e dicionários online, segundo os projetos apresentados durante uma conferência de ciências em Vancouver.
Mais da metade das cerca de 7 mil línguas e dialetos que ainda são falados no planeta terão desaparecido até o fim do século, vítimas de mudanças culturais, de repressão governamental e de outros problemas, segundo estimativas dos meios científicos.
David Harrison, professor de linguística na Universidade Swartmore (Pensilvânia), é um dos principais responsáveis pela criação de oito dicionários especializados no âmbito de um projeto promovido pela Sociedade National Geographic.
Harrison apresentou seus trabalhos durante a conferência anual da Associação Americana para o avanço da ciência (AAAS, em inglês), realizada desde em Vancouver (oeste do Canadá).
"O efeito positivo da globalização faz com que hoje seja possível que uma língua falada por poucas pessoas e em alguns lugares muito isolados tenha, graças à tecnologia digital, uma presença e uma audiência planetária", explicou Harrison à imprensa durante a conferência da AAAS.
"A extinção de línguas é evitável", insistiu, revelando "uma tendência à revitalização linguística nestes dez últimos anos em todo o mundo".
"As pequenas comunidades linguísticas enfrentaram a falsa escolha ao ouvirem que sua língua fora superada e que precisavam renunciar a ela para poder abraçar a modernidade", criticou Harrison.
Mas agora, "estes grupos linguísticos tomam consciência de que eles também podem ser cidadãos do mundo, aprender as línguas globais, como o inglês, conservando sua língua tradicional e os vastos conhecimentos" ancestrais vinculados a ela, disse.
Os oito dicionários criados para cada uma das línguas ameaçadas sobre as quais Harrison trabalhou têm mais de 32 mil palavras no total.
Eles também possuem fotos de objetos culturais e ao menos 24 mil registros sonoros de frases e palavras pronunciadas pelas pessoas que falam fluentemente estas línguas.
Um destes dicionários é da língua Siletz Dee-ni, falada apenas em uma tribo ameríndia de Oregon (noroeste dos Estados Unidos). Um de seus membros, Alfred ‘Bud’ Lane, um dos últimos a falar normalmente esta linguagem, explicitou os méritos desta iniciativa.
"O dicionário falante é, e será, um dos melhores meios que teremos para salvar a Siletz", disse Lane à imprensa via teleconferência.
"Ensinamos a língua na escola do vale de Siletz dois dias inteiros por semana e agora nossos jovens aprendem mais rápido do que eu havia imaginado’, disse este ameríndio.
Entre as outras línguas contempladas nos projetos de dicionários da Sociedade National Geographic também aparece a Matukar Panau de Papua Nova Guiné, falada por 600 pessoas em apenas duas aldeias, e que nunca havia sido escrita ou registrada.
Fonte: JB.com (com informações da Agência France Press)